Cultura

Festival da Lua e a Mitologia romântica de Chang’e Houyi

Festival da Lua e Mitologia
Fonte da imagem: Li Suren/Xinhua

O Festival da Lua, ou Festival de Meio do Outono, tem sua origem na adoração dos corpos celestes e evoluiu a partir de antigas cerimônias de sacrifício dedicadas às divindades. Celebrado no 15° dia do 8° mês lunar do calendário chinês, o festival coincide com o momento em que a lua atinge seu estado mais luminoso e encantador do ano. A lua cheia possui um significado profundo na cultura chinesa, pois a fonética de “lua” é semelhante à palavra “união”. Esse simbolismo retrata sentimentos de saudade pelos entes queridos, prosperidade, colheitas abundantes e felicidade.

Além de seu aspecto cultural, o Festival da Lua está ligado à mitologia romântica de Chang’e e Houyi. Essa lenda antiga narra a história de Chang’e, a deusa da lua, e Houyi, seu esposo, um arqueiro habilidoso. Sua história é uma metáfora de sacrifício, amor e saudade, que reflete perfeitamente o espírito do festival.

A celebração do Festival da Lua é marcada por tradições como a contemplação da lua, o consumo de bolos lunares, a criação de lanternas chinesas, a apreciação das flores de osmanthus e o consumo do vinho feito dessa planta.

Bolos Lunares

Os bolos lunares, ou yuèbǐng (月饼), são uma das tradições mais icônicas do Festival da Lua. Pequenos e redondos, esses bolos simbolizam a união e a completude, associadas à lua cheia, que também representa harmonia e prosperidade na cultura chinesa. O ato de compartilhar e comer bolos lunares é uma forma de reunir a família e expressar saudade por aqueles que estão longe.

Festival da Lua e Mitologia
Fonte da imagem: sasazawa/ Adobe Stock

Os bolos lunares podem ter uma grande variedade de recheios, que variam conforme cada região. Tradicionalmente, eles são recheados com pasta de feijão vermelho, pasta de sementes de lótus, e às vezes contêm gemas de ovos salgados no centro, simbolizando a lua. Em outras partes do mundo, versões mais modernas trazem recheios, como chocolate, frutas secas, chá verde e até sorvete, para atender aos paladares contemporâneos.

Embora inicialmente preparados apenas para o Festival da Lua, os bolos lunares também são oferecidos como presentes entre amigos, familiares e parceiros de negócios, consolidando a importância do gesto de partilha e reciprocidade. Em termos simbólicos e gastronômicos, esses bolos vão além de uma simples sobremesa, representa a conexão com as tradições chinesas. Além da China, países como Indonésia, Singapura, Filipinas, Vietnã, Japão e Coreia do Sul também celebram o festival, influenciados pela cultura chinesa.

A história da mitologia de Chang’e Houyi

Diversas mitologias populares da China tentam explicar a origem do festival, sendo a mais famosa e amplamente aceita a história do casal Chang’e e Hou Yi.

De acordo com a mitologia, o céu era dominado por dez sóis, e a Terra sofria com um calor insuportável. As plantações murchavam, a fome se espalhava, e as doenças eram uma constante. Hou Yi, um herói corajoso, decidiu pôr fim a esse caos. Armado com seu arco, ele subiu até o topo da montanha KunLun, derrubando nove sóis e deixando apenas um para iluminar o mundo. Esse ato salvou a humanidade, e Hou Yi tornou-se conhecido por todos, atraindo muitos discípulos.

Mas, apesar de seu feito, as deusas quiseram recompensá-lo com algo mais. Ofereceram-lhe uma pílula que concedia a imortalidade e poderes divinos. No entanto, isso significava que Hou Yi teria que se separar de sua amada Chang’e, pois não poderia mais viver entre os mortais. Incapaz de aceitar essa condição, o casal decidiu guardar a pílula e prometeu nunca usá-la.

Um de seus discípulos, Feng Meng, tramava em segredo para roubar a pílula e ganhar a imortalidade de maneira desonrosa. Sabendo que não poderia derrotar seu mestre, ele esperou que Hou Yi saísse em uma longa viagem. Aproveitando a ausência, Feng Meng invadiu a casa, armado, e ameaçou Chang’e, exigindo que ela entregasse a pílula. Em um ato de desespero, Chang’e decidiu ingerir a pílula para impedir que o impostor a obtivesse. Aos poucos, ela começou a flutuar, subindo cada vez mais alto, até desaparecer no céu. Foi assim que Chang’e se tornou a deusa da Lua.

A separação entre Hou Yi e Chang’e foi definitiva: ele permaneceu na Terra, enquanto ela passou a viver no palácio da Lua. Mesmo com o passar dos séculos, a saudade que Chang’e sentia de Hou Yi nunca diminuiu. Em sua homenagem, ele criou o bolo lunar, e os mortais, tocados por sua história, começaram a fazer o mesmo bolo, como uma forma de se conectar à deusa e à sua saudade.

Fonte: História do Chang’e; Costumes da Festival de meio do Outono