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China usa IA no vestibular e expande educação automatizada em escolas públicas

IA vestibular
Fonte da imagem: Ren Chao/ Xinhua

Enquanto milhões de estudantes enfrentam as provas do vestibular na China, modelos de inteligência artificial também são testados nos exames. Assim que os temas das redações são divulgados, sistemas de IA produzem textos completos a partir de extensos bancos de dados linguísticos. O mesmo ocorre com a prova de matemática: algoritmos analisam enunciados e resolvem as questões com alta taxa de acerto, desde que compreendam corretamente o conteúdo proposto.

A simulação do vestibular por inteligências artificiais levanta debates entre educadores, especialistas e alunos. Muitos enxergam nesse tipo de teste um novo recurso pedagógico. Ler uma redação produzida por IA ou acompanhar a lógica aplicada na resolução de um problema matemático pode servir como ferramenta complementar de aprendizado.

Desde que passou a ser integrada ao ambiente escolar, a IA transformou a educação em um campo de testes em constante evolução. O uso desses sistemas já vai além das dúvidas iniciais sobre ética ou dependência. Hoje, grande parte dos alunos, professores e responsáveis reconhecem o potencial da IA em tarefas como correção automatizada, mapeamento de erros, criação de exercícios personalizados e até suporte com realidade virtual.

Durante a Assembleia Popular Nacional deste ano, o ministro da Educação da China, Huai Jinpeng, afirmou que cada revolução tecnológica impôs novas exigências ao sistema educacional. Segundo ele, a atual transformação digital abre espaço para novas reformas e oportunidades no ensino.

IA transforma práticas pedagógicas e reorganiza o tempo escolar

Em cidades como Xangai, a adoção da IA no ensino público e privado já é realidade. Em escolas de ensino médio, por exemplo, professores usam sistemas automatizados para corrigir provas de ditado. O processo, que levava 40 minutos, agora dura poucos minutos. Relatórios detalhados indicam taxas de acerto, índices de dificuldade e padrões de erro. Com esses dados, os docentes ajustam o planejamento de aula e adotam abordagens mais personalizadas.

O uso da IA também se estende aos estudantes e às famílias. Ferramentas inteligentes corrigem lições, geram questões a partir dos erros cometidos e explicam passo a passo a resolução de problemas. Em muitos casos, isso reduz a carga horária sobre os pais, que antes assumiam parte do suporte escolar.

Dados da consultoria iiMedia Research mostram que o mercado de educação online na China movimentou RMB 262,8 bilhões em 2023. A IA respondeu por cerca de 7% desse total. A projeção para 2027 é de que essa participação chegue a 16%.

Além de ampliar a produtividade e a personalização do ensino, a IA pode contribuir para a redução das desigualdades educacionais. Em regiões remotas ou com estrutura deficiente, o acesso a ferramentas digitais e à internet permite que estudantes tenham contato com conteúdos que antes estavam restritos a grandes centros. No entanto, a ausência de infraestrutura básica nessas localidades ainda representa um obstáculo relevante.

Risco de automação excessiva preocupa educadores

Especialistas alertam, porém, que o uso da IA em excesso pode comprometer aspectos subjetivos da educação. Há receio de que as salas de aula se tornem ambientes excessivamente controlados por algoritmos, limitando a criatividade e o vínculo emocional entre professores e alunos. Parte do processo de aprendizagem inclui dúvidas, erros e interações humanas que os sistemas automatizados não conseguem reproduzir.

Para os professores, a IA oferece recursos úteis como elaboração de planos de aula, análise de desempenho e organização de conteúdo. No entanto, existe o risco de que essa lógica torne o processo mais mecânico e menos flexível. Um texto bem escrito por uma IA pode ser tecnicamente correto, mas carece de espontaneidade. A educação, dizem os docentes, também envolve momentos inesperados, como perguntas fora do script e discussões entre alunos que extrapolam o conteúdo programático.

Apesar da evolução dos sistemas, a IA ainda não substitui a mediação humana. Respostas automáticas ajudam no aprendizado, mas não substituem o olhar atento do professor que reconhece a criatividade em um erro ou a dúvida legítima de um aluno. Tampouco reproduzem os diálogos informais entre colegas, que fazem parte do ambiente escolar.

Fonte: 36kr.com