O mundo tem visto a China despontar como um país que entrega soluções para diversos problemas e demandas de mercado e da sociedade. Passou a fase da “China copycat”. A inovação acontece como uma resposta às necessidades mais urgentes, mas também como uma estratégia de longo prazo. Analistas que estudam os processos de inovação chineses são quase unanimes em afirmar que, na China, inovar é uma questão de sobrevivência.
A inovação chinesa é caracterizada por diversos aspectos que passam tanto pela esfera privada quanto pública, com o Estado alavancando a inovação e a produção como uma estratégia de desenvolvimento nacional. Edward Tse, em seu livro “China’s Disruptors – How Alibaba, Xiaomi, Tencent and Other Companies are Changing the Rules of Business ” (2015), afirma que a inovação do país é conduzida pelo ambiente de negócios com escala, mercado aberto, apoio oficial do governo e tecnologia.
Quais são as características de inovação da China? Elencamos abaixo:
1. Experimentação
Esse é um dos elementos-chave da cultura de inovação da China. Projetos são colocados em prática como teste ou piloto, e ajustados de acordo com a experiência dos usuários/clientes ou cidadãos. Desde o início do processo de abertura e modernização da economia chinesa em 1979, a prática tem sido de avaliar ideias, testá-las em pequena escala e só depois expandir. Esse modo de inovar é aplicado pelo governo em suas políticas públicas e pelas empresas nos processos de criação e desenvolvimento de produtos e serviços.
2. Competição
Imagine viver em um país com 1,4 bilhão de habitantes e ter de competir por espaço em ambientes sociais como universidade e mercado de trabalho. A concorrência por fatia de mercado também é um fator impulsionador da inovação e corrobora para o argumento de analistas de que inovar na China é fazer ou morrer. Os chineses primeiro competem entre si, internamente, e depois olham para fora. Porém, um elemento interessante de se observar é o de que as empresas chinesas já crescem olhando globalmente, ou seja, com plano de expansão, o que fatalmente fará com que compitam com companhias fora da China.
3. Velocidade
Tudo na China acontece com alta velocidade, impulsionada especialmente pela competição de mercado. A agilidade também é beneficiada pelo modelo de inovação citado acima: testar em menor escala e ajustar. Teste, ajuste e velocidade, também acabam gerando menores custos.
4. Investimento do governo
O investimento do governo passa por todos os processos da inovação, começando pela educação de base até as instituições de pesquisa de ponta, e centros de Pesquisa e Desenvolvimento. A exemplo disso, o centro tecnológico de Pequim, o Zhong Guan cun, que é considerado o Vale do Silício da China. Falamos aqui sobre o plano do governo de investir em centros de inovação e empreendedorismo como forma de gerar empregos principalmente entre os mais jovens. “Os líderes da China estão cientes de que as empresas por si só não podem comprometer os recursos para impulsionar a inovação em muitas áreas cruciais, de modo que o Estado deve liderar o caminho”, afirma Edward Tse, em seu livro.
5. Regulamentação facilitada
Na China, primeiro se testa, depois regulamenta. Inovações como meios de pagamento, por exemplo, só passaram por regulamentação depois de já estarem sendo amplamente usadas no mercado. Para os chineses, a regulamentação é feita na medida em que o produto ou serviço é colocado em uso. Isso acelera o processo de inovação, pois não coloca burocracias durante o desenvolvimento.
6. Facilidade para abrir empresas
O governo chinês incentiva o empreendedorismo e facilita para que cidadãos abram empresas. Em um exemplo mais recente, durante a crise do coronavírus, foram emitidas diversas portarias de facilitação para que pequenas empresas fossem abertas.
7. Educação
A educação é considerada na China como o fator que tira as pessoas da condição de pobreza. Isso sempre foi entendido na China, e a educação é culturalmente considerada como um valor maior. Como falado anteriormente, o governo investe na educação de base, mas universidades e nas instituições de pesquisa. Os jovens chineses competem por uma vaga no sistema educacional chinês através do Gaokao, o vestibular unificado do país, que acontece uma vez por ano, e é única chance de os jovens entrarem na universidade. Neste ano, 10,7 milhões fizeram o exame.
8. Aprender com o mundo e adaptar
Desde que o líder Deng Xiaoping decidiu abrir a economia chinesa no final da década de 1970, a China mandou milhares de jovens para fora do país para estudar em universidades americanas, europeias, coreanas, japonesas. Ao voltarem para a China, compartilhariam o que aprenderam. A ideia de Deng Xiaoping era modernizar os processos de administração das empresas estatais e reformar o setor privado pegando como exemplo o que se fazia fora da China. Os chineses entenderam as práticas de fora do país e adaptaram às condições locais. Isso se desenvolveu em processos de inovação com características chinesas.
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Por: Keila Cândido