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Como o governo Biden ajustará sua política externa com a China

Texto escrito pelo pesquisador do Instituto do Banco de Desenvolvimento da China (CDB, sigla em inglês), Wu Zhifeng, não representando a posição da China2Brazil.

A meu ver, após a tomada de posse do governo Biden, a primeira coisa a tratar ainda são os problemas domésticos dos Estados Unidos, que é a mobilização de cargos em larga escala para lidar com a pandemia da covid-19, lançamento da segunda rodada de medidas de resgate financeiro com o Congresso, serão feitas ajustes subversivos nas política fiscais e de saúde do Trump, que vão ocupar o maior tempo do governo Biden. Portanto, os ajustes da política externa com a China são uma preocupação secundária no início, e espera-se que o governo Biden os deixe claros até o outono do próximo ano ou até mais, que é exatamente o que eu acredito ser o período de oportunidade para tomar iniciativas preventivas. Como Biden ajustará sua política contra a China? Isto precisa ser estudado em profundidade, de forma ampla, das seguintes maneiras.

  1. Os valores de Biden

Biden foi eleito para o Senado aos 30 anos de idade, tem experiência de quarenta e sete ano nos cenários político em Washington, D.C., exerceu o cargo de Presidente do Comitê Judiciário do Senado e Presidente do Comitê de Relações Exteriores, é o parceiro de Obama há oito anos no Vice-Presidente. Diferente do Trump que participou da política por poucos anos, a vasta experiência dele deixa pouco espaço para erros. Mas se julgarmos Biden somente como um veterano experiente e um velho de 80 anos sem conquistas, isso pode ser muito errado.

A história de Biden mostra um homem comprometido com a sua ideologia, muito motivado, resiliente e persistente. Ele concorreu pela primeira vez à presidência em 1988 com a promessa de “reacender a chama do idealismo em nossa sociedade”, depois concorreu às eleições primárias do partido democratas em 2008 e ganhou a proposta do Obama de torná-lo vice-presidente. Em 2016 ele abandonou a concorrer ao presidente devido à morte de seu filho mais velho, mas guardou o desejo do filho de ver o pai no cargo do presidente e, neste ano, aos 77 anos de idade concorreu ao cargo e venceu Trump tornando-se presidente.

Ele fez um discurso em Gettysburg no início de outubro que capturou os pontos chaves das questões sociais do EUA. A adesão de Biden aos valores liberais tradicionais e a crença no papel orientador da democracia americana contrastam fortemente com o realismo.

Os valores liberais de Biden desempenharão um enorme papel na união de aliados internacionais, e agora que os líderes britânicos, franceses e alemães enviaram cartas de congratulações a Biden, espera-se que os governos alemão e francês retornem à bandeira da diplomacia dos valores americanos e que a relação EUA-UE seja fortalecida.

  1. Equipe de Biden das políticas externas com a China

Em comparação com a equipe de Trump, que age como falcão da guerra (War Hawk, em inglês) como Bannon, Pompeo e Navarro, a equipe de Biden será mais racional e diversificada, composta principalmente por Anthony Blinken, Erik Ratner, Susan Rice, Kurt Campbell, Jack Sullivan, Samantha Powell, Thomas Donilon e Ben Rhodes.

Todos estes são veteranos da era Obama, colegas de Biden há muitos anos, incluindo Blinken, que foi conselheiro quando Biden foi presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, e mais tarde como conselheiro de segurança nacional do Vice-Presidente Biden, e provavelmente servirá como secretário de Estado na administração Biden.

Rice foi embaixador de Obama nas Nações Unidas e conselheiro de segurança nacional, dando a Biden um grande apoio na campanha deste ano.

Campbell serviu como Secretário de Estado Adjunto para Assuntos do Leste Asiático e do Pacífico durante o primeiro mandato de Obama.

A política dessas pessoas em relação à China será muito diferente da era Trump. Por exemplo, Blinken disse em um evento da Câmara de Comércio dos EUA em setembro, “Acho que tentar se desacoplar completamente da China, como alguns sugeriram, é irrealista e, em última análise, contraproducente”.

Sullivan e Campbell também argumentaram que “Uma mentalidade de Guerra Fria tornaria os EUA não competitivos a longo prazo, e simplesmente enfatizar a contenção da China não funcionaria […]”.

Em abril, Rice, Blinken e Sullivan e mais de 100 ex-funcionários e acadêmicos emitiram uma declaração pedindo que o governo dos Estados Unidos cooperassem com a China na luta contra covid-19.

Em sua campanha, Biden disse que a Rússia é a maior ameaça para os Estados Unidos e que a China é seu maior concorrente. Há uma diferença entre essa afirmação e a de Trump. Membros centrais como Blinken devem apoiar o ajuste de Biden à sua política com China, com base na tradição internacionalismo liberal, sua crença na influência dos valores democráticos americanos, reconhecer que as alianças feitas pelo Estados Unidos são sua principal fonte de força, e sua oposição e acusação de que a política America First do Trump tem minado a influência dos EUA nas organizações internacionais. Isto prefigura um grande ajuste na política externa da administração Biden e da China.

  1. Prevendo os principais ajustes políticos de Biden em relação à China

Michael R. Pompeo assegura uma postura rígida baseada em um confronto binário, o que leva ao risco da China e dos Estados Unidos passarem diretamente do diálogo para a dissociação. A administração Biden ainda verá a China como seu maior concorrente para conter, mas reacolherá a diplomacia dos valores de relações internacionais, com um ajuste dramático na abordagem e uma desescalada da confrontação direta.

O governo Biden voltará gradualmente a organizações e acordos que se retiraram na era Trump, fortalecerá sua liderança em organizações internacionais, reparará alianças danificadas pelo governo Trump e formará uma nova rede de contenção contra a China. Em termos de relações econômicas e comerciais, Biden pode retornar o mais rápido possível à TPP (Parceria Transpacífica), e retardar o acordo RCEP através de aliados como Japão, Austrália e Coréia do Sul, enquanto reinicia o TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento) com a Europa para conseguir contrair o comércio da China com o mundo.

Em termos de diplomacia política e segurança, Biden irá reiniciar a estratégia de “retorno à Ásia-Pacífico” do governo Obama, mas não irá simplesmente relançá-la. Irá absorver a “estratégia Indo-Pacífico” que a administração Trump já está avançando, integrando os pontos fortes das duas estratégias e enfatizando a importância da estratégia de “retorno à Ásia-Pacífico”.

O governo Biden voltará gradualmente a organizações e acordos que se retiraram na era Trump, fortalecerá sua liderança em organizações internacionais, reparará alianças danificadas pelo governo Trump e formará uma nova rede de contenção contra a China.

Em termos de relações econômicas e comerciais, Biden pode retornar o mais rápido possível à TPP (Parceria Transpacífica), e retardar o acordo RCEP através de aliados como Japão, Austrália e Coréia do Sul, enquanto reinicia o TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento) com a Europa para conseguir contrair o comércio da China com o mundo.

Em termos de diplomacia política e segurança, Biden irá reiniciar a estratégia de “retorno à Ásia-Pacífico” do governo Obama. Não simplesmente irá relançá-la, mas absorver a “estratégia Indo-Pacífico” que a administração Trump já está avançando, integrando os pontos fortes das duas estratégias e enfatizando a importância do papel de aliados como Japão, Austrália e Índia, aumentando a pressão sobre os países da ASEAN e formando uma opressão geopolítica mais sistemática da China, é provável que o sistema da OTAN na Ásia-Pacífico ainda continue a avançar. O que a China tem que lidar na era Biden será um sistema composto, ou seja, TPP + TTIP + retorno à estratégia Ásia-Pacífico + Indo-Pacífico.

A guerra comercial continuará, e a rivalidade comercial e tecnológica entre EUA e China só pode ser resolvida a longo prazo. Embora haja muitas vozes opostas na equipe de Biden, como Thomas Donilon escrevendo em Foreign Affairs em junho de 2019, criticando a guerra comercial de Trump como a forma errada de competir com a China.

Mas especificamente na guerra comercial e tecnológica entre EUA e China, as tarifas impostas pela administração Trump, os acordos da primeira fase que foram permitidos e as restrições às importações de chips da Huawei serão cancelados ou não? Não creio que as respostas a estas perguntas específicas venham muito cedo. A razão é que esta não é a questão mais urgente que o governo Biden precisa enfrentar no momento. E mesmo se a equipe Biden se opuser a essas políticas Trump, muitas dessas políticas se tornaram leis aprovadas pelo Congresso, e mesmo que quisessem mudá-las, precisariam passar por um processo sistemático de consideração e procedimento. Algumas das medidas já tiveram um bom efeito e alcançaram benefícios reais, os americanos, independentemente do partido ou facção, não abrirão mão dos benefícios que alcançaram. Em vez disso, a equipe Biden usará os trabalhos de Trump para projetar uma nova rota de políticas. Portanto, a incerteza dos ajustes políticos é maior nas guerras comerciais e tecnológicas.

Acreditamos que a política externa só será clara depois que a equipe Biden avaliar completamente a reação do mercado e da comunidade científica, dessa forma, traçar um plano de resposta sistemático, mas podemos esperar que Biden esteja mais inclinado a ouvir a voz do mercado e da globalização, e esperamos cancelar algumas políticas se houver um forte apelo das empresas e empresas tecnológicas americanas.

Finalmente, gostaria de enfatizar que, embora exista um consenso nos partidos do Congresso dos Estados Unidos de que a China é o maior concorrente estratégico, isso não significa de forma alguma que a dissociação da relação e o confronto entre a China e os Estados Unidos seja inevitável. Há ainda um longo caminho a percorrer desde o consenso até a implementação da estratégia, e há muitas incertezas no processo da implementação.

Do ponto de vista da sua equipe, pode-se ver que a administração Biden fará grandes ajustes em sua política com a China. Se a China puder estudar o assunto em profundidade e tomar a iniciativa de compreender as mudanças nos pontos de vista da equipe de Trump para o Biden, ganhará mais chances no futuro.

 

Fonte: 21jingji.com