A Li Auto se tornou a primeira startup chinesa de veículos elétricos a produzir um milhão de carros. O milionésimo veículo saiu da linha de montagem da fábrica da marca, em Changzhou.
A série L da Li Auto utiliza cerca de 60% de seus componentes de fornecedores locais, e a expectativa é que esse número chegue a 70% até 2026, o que contribuirá para o desenvolvimento da cadeia automotiva da província de Jiangsu, no leste da China, segundo Li Xiang, presidente e CEO da montadora de Pequim.
O crescimento da cadeia de suprimentos chinesa foi um fator-chave para o sucesso da Li Auto. Anteriormente, a maioria das empresas de autopeças chinesas se concentrava na produção de peças não essenciais, como pneus, rodas e interiores. No entanto, nos últimos anos, houve grandes avanços, quebrando o monopólio dos fabricantes estrangeiros.
Um exemplo é a Baolong Automotive, fornecedora de molas pneumáticas, que iniciou a produção em massa de molas pneumáticas de câmara única em 2022, acabando com a dependência de importações de produtores estrangeiros, como o grupo alemão ZF. Neste ano, a empresa passou a produzir molas pneumáticas de câmara dupla, desafiando a velocidade de adaptação dos fabricantes internacionais, segundo Zhang Zuqiu, presidente da Baolong.
A Baolong recentemente fechou um contrato de fornecimento no valor de 240 milhões de yuans (US$ 33,7 milhões) com uma renomada montadora europeia. A empresa fornecerá molas pneumáticas dianteiras e traseiras para o sistema de suspensão a ar de uma nova plataforma, com produção em massa prevista para 2027 e um ciclo de vida do projeto de sete anos.
A Baolong também está em negociações com as marcas alemãs de luxo Mercedes-Benz, BMW e Audi, disse Zhang. A empresa, sediada em Xangai, planeja expandir sua capacidade de produção e abrir fábricas na Europa, além de colaborar com fabricantes de equipamentos originais da China para se expandir globalmente.
A Li Auto também mantém uma estreita parceria com a Bethel Automotive Safety Systems, fabricante chinesa de sistemas de frenagem. A Bethel desenvolveu um sistema de freio por controle eletrônico em apenas 11 meses, desde a aprovação do projeto até a produção em massa.
“Uma fábrica chinesa pode desenvolver um novo sistema em até 18 meses, enquanto clientes estrangeiros normalmente levam três anos”, disse Yuan Yongbin, presidente e gerente geral da Bethel.
A Bethel está envolvida em cerca de 130 a 150 projetos, comparáveis aos da alemã Bosch, mas sua produção é menor. Alguns projetos da empresa, sediada em Wuhu, já alcançaram a produção em massa, e há dezenas de outros ainda em desenvolvimento.
Investimento Local
Em 2020, a Li Auto investiu 400 milhões de yuans (US$ 56,2 milhões) em pesquisa, desenvolvimento e produção junto à fornecedora de baterias Sunwoda. Em abril de 2023, a Sunwoda, com sede em Shenzhen, criou uma unidade de negócios dedicada à Li Auto, com 1.300 funcionários.
Além disso, a Li Auto investiu centenas de milhões de yuans, equivalentes a dezenas de milhões de dólares, em pesquisa e desenvolvimento e em linhas de produção da fabricante de motores Inovance Automotive. A montadora também ofereceu assistência na definição de produtos, desenvolvimento tecnológico, aquisição e gestão da qualidade da cadeia de suprimentos.
As parcerias com a Li Auto, Xpeng, Xiaomi e outras empresas nos últimos dois anos foram essenciais para o desenvolvimento da Inovance, afirmou o vice-presidente executivo e diretor de operações Yang Ruicheng.
“No início, não conseguíamos acessar os fabricantes de automóveis nacionais e internacionais. Mas com a ascensão das marcas chinesas de carros em 2019 e 2020, todos começaram a aprender com as startups.
Tentamos então entrar novamente no mercado de veículos tradicionais e percebemos que a situação havia melhorado muito”, disse Yang.
“No passado, as 100 principais empresas de autopeças da China produziam principalmente peças não essenciais, como pneus, rodas e interiores. Acredito que, no futuro, haverá mais fornecedores de peças essenciais na China”, acrescentou Yang.
Adaptação para o Brasil
Esse artigo reflete o impacto crescente da indústria automotiva chinesa, que pode servir como um exemplo para o Brasil. O fortalecimento da cadeia de suprimentos local e o investimento em inovação podem ser lições valiosas para a indústria automotiva brasileira, especialmente à medida que o mercado global se orienta cada vez mais para os veículos elétricos e as tecnologias limpas.
Tradução: Mei Zhen Li
Fonte: Yicai Global