Com a valorização de símbolos tradicionais e o reconhecimento de patrimônios culturais, marcas chinesas têm ampliado sua presença no mercado interno e externo. O fenômeno conhecido como Guochao, que integra elementos da cultura tradicional da China à estética contemporânea, fortalece o consumo cultural no país e reforça a identidade nacional entre os jovens.
Na rua Qianmen, em Pequim, estabelecimentos como o café Renmin atraem visitantes com decoração inspirada na cultura revolucionária. Desde que a Beijing Central Axis foi reconhecida como Patrimônio Mundial, o fluxo de consumidores aumentou. Bebidas e doces com elementos da chamada “cultura vermelha” lideram as vendas.
O movimento também se espalha por outras regiões. Em Chengdu, durante as férias de verão, o Museu do Sítio Arqueológico de Jinsha registrou alta na procura por produtos temáticos. Itens com símbolos antigos, como o pássaro solar de Jinsha, ganham popularidade entre crianças e famílias. No Museu Nacional da China, ímãs de geladeira em formato de coroa de fênix ultrapassaram 2 milhões de unidades vendidas em um ano.
A comercialização de produtos culturais também impulsiona museus menores. O Museu de Arquitetura Antiga de Pequim, por exemplo, lançou mais de 300 produtos com elementos arquitetônicos históricos e agrícolas. Após o reconhecimento da linha central de Pequim pela UNESCO, a instituição vendeu mais de 510 mil unidades.
A presença desses elementos também se intensifica nas plataformas de e-commerce. Jovens consumidores optam por produtos com estética chinesa tradicional, como roupas, acessórios, cosméticos e artigos de decoração. Dados de mercado apontam que os nascidos nos anos 1990 lideram esse tipo de consumo, seguidos pela geração pós-2000, que apresenta o crescimento mais rápido.
IP chineses expandem influência global
Personagens criados por marcas chinesas também ganham espaço fora do país. O boneco Labubu, da Pop Mart, lidera as vendas na Tailândia e registra filas em lojas de Nova York e Londres. A Administração Geral das Alfândegas informou que, nos quatro primeiros meses do ano, as exportações de brinquedos de pelúcia e bonecos chineses superaram RMB 13,3 bilhões, aumento de 9,6%.
Outro destaque é Nezha 2, animação baseada na mitologia chinesa. O filme quebrou recordes de bilheteria mundial e impulsionou a venda de produtos licenciados. Marcas de roupas e bebidas lançaram coleções especiais com o personagem, o que gerou aumento nas vendas. A demanda partiu também de consumidores estrangeiros, que passaram a buscar produtos chineses por meio de intermediários locais.
O crescimento do interesse internacional reflete a mudança de percepção dos jovens chineses, que antes valorizavam marcas estrangeiras e agora demonstram preferência por produtos nacionais. Segundo dados de plataformas de comércio eletrônico, o consumo de marcas locais tem crescido com apoio da inovação, qualidade e identidade cultural.
Inovação tecnológica impulsiona produção e atrai público jovem
Empresas tradicionais utilizam tecnologias como inteligência artificial e impressão digital para modernizar a produção. Em Hangzhou, uma fábrica de seda desenvolveu um sistema que imprime padrões personalizados em tecidos em menos de duas horas. A técnica garante precisão e amplia o alcance dos produtos entre novos públicos.
Parcerias com marcas da cultura pop também ampliam a conexão com os jovens. Em Xangai, o restaurante centenário Shanghai Lao Fandian atraiu novos clientes após uma colaboração com o anime chinês Link Click. A campanha resultou em aumento de fluxo e mudança no perfil do público consumidor.
Especialistas apontam que a consolidação do Guochao depende da manutenção da qualidade, da inovação tecnológica e da valorização da herança cultural. A tendência deixa de ser um fenômeno passageiro para se tornar estratégia de longo prazo, contribuindo para o fortalecimento do soft power chinês.
Fonte: stdaily.com