O mercado consumidor da China caminha para o patamar de RMB 50 trilhões em 2025 e passa por uma reestruturação ampla, impulsionada por três fatores centrais: a adoção intensiva da inteligência artificial, a mudança nos valores de consumo e a expansão do varejo instantâneo. Esses elementos atuam de forma integrada e alteram a jornada de compra, os critérios de escolha dos consumidores e os canais de venda no país.
A combinação entre tecnologia, novos hábitos e inovação nos modelos de negócio cria um ecossistema de consumo mais digital, conectado e orientado por dados, com impacto direto sobre varejo, serviços e indústria.
Inteligência artificial redefine a decisão de compra
Durante o festival de compras do “Duplo 11”, ferramentas como consultores de compras por IA, listas automáticas de produtos e agentes de comparação de preços ganharam espaço. Diante do grande volume de informações, consumidores passaram a delegar parte das escolhas a sistemas inteligentes.
As principais plataformas reagiram rapidamente. A Tmall classificou 2025 como o primeiro ano de aplicação plena da IA em todo o seu ecossistema. A JD.com lançou o assistente “Jingxiaozhi 5.0”, capaz de acompanhar o consumidor ao longo de toda a jornada de compra. Já a ByteDance integrou o modelo Doubao ao comércio eletrônico do Douyin, unificando visualização de produtos, interação e compra.
Além das plataformas, assistentes independentes e plugins inteligentes ampliaram os pontos de entrada do consumo. O objetivo é analisar dados de comportamento, identificar necessidades com mais precisão, reduzir o tempo de decisão e aumentar a eficiência das transações.
Estimativas do McKinsey Global Institute indicam que a inteligência artificial generativa pode gerar entre US$2,6 trilhões e US$4,4 trilhões em valor econômico anual no mundo. No setor de varejo e bens de consumo, o potencial varia entre US$400 bilhões e US$660 bilhões.
Valores de consumo mudam e priorizam identidade, bem-estar e sustentabilidade
A transformação tecnológica ocorre em paralelo a uma mudança nos valores que orientam o consumo na China. Em 2025, ganham força tendências como o guochao, que valoriza a cultura nacional, o consumo voltado ao bem-estar pessoal e a atenção ao custo-benefício e à sustentabilidade.
Produtos culturais chineses, como joias de ouro com design tradicional, artesanato e marcas nacionais, registram alta demanda, sobretudo entre jovens. O consumo voltado à satisfação pessoal impulsiona setores ligados à estética, à experiência e à identidade individual. Projeções indicam que esse mercado pode ultrapassar RMB 3 trilhões até 2028.
A chamada “economia emocional” também cresce. Eventos como a Bilibili World 2025, realizada em Xangai, reuniram cerca de 400 mil jovens e impulsionaram o consumo ligado à cultura otaku. Iniciativas esportivas regionais, como a Superliga de Jiangsu, também estimularam a economia local. Dados apontam que o mercado chinês de consumo emocional pode superar RMB 2 trilhões em 2025.
Ao mesmo tempo, consumidores demonstram maior atenção à durabilidade dos produtos e à sustentabilidade. O mercado de reutilização e reciclagem avança, com crescimento nas plataformas de segunda mão. Mais de 80% dos consumidores afirmam aceitar práticas de consumo circular.
No setor automotivo, a preferência migra da potência para a inteligência embarcada. Em 2025, veículos com sistemas de condução assistida de nível L2 representam 64% das vendas, enquanto modelos com recursos avançados de direção autônoma começam a ganhar espaço.
Varejo instantâneo acelera integração entre online e offline
Dados do Instituto de Pesquisa do Ministério do Comércio indicam que o mercado de varejo instantâneo deve alcançar RMB 971,4 bilhões em 2025, aproximando-se de RMB 1 trilhão. Grandes plataformas intensificaram investimentos em logística, subsídios e expansão territorial. Em alguns períodos, o volume diário de pedidos ultrapassou 200 milhões.
Apesar do avanço das regulações, o impacto estrutural do modelo já se consolidou. A expansão do setor levou à criação de uma rede de armazéns de proximidade, que viabilizam entregas em poucos minutos e alteram a logística urbana. Atualmente, mais da metade das transações do varejo instantâneo ocorre por meio desses centros de distribuição.
Os pontos de venda passam a funcionar como espaços de experiência, retirada de pedidos e prestação de serviços, reforçando a conexão entre consumo online e presencial.
Segundo Du Guochen, diretor do Instituto de Pesquisa em Comércio Eletrônico do Ministério do Comércio da China, a aceitação do varejo instantâneo cresce à medida que o modelo se integra ao comércio local. Para ele, o formato deixou de atender apenas demandas emergenciais e passou a fazer parte da rotina dos consumidores.
Estimativas apontam que o mercado chinês de varejo instantâneo pode superar RMB 1 trilhão até 2026 e alcançar RMB 2 trilhões até 2030, com taxa média de crescimento anual de 12,6% durante o 15º Plano Quinquenal.
Consumo entra em novo ciclo estrutural
O cenário indica que a China inicia um novo ciclo de consumo, marcado pela aplicação intensiva de tecnologia, pela diversidade de valores e pela inovação nos canais de venda. A interação entre inteligência artificial, mudança cultural e novos formatos de varejo redefine toda a cadeia, da produção à experiência final do consumidor.
Para Zhu Keli, presidente do Instituto de Pesquisa de Nova Economia da China, a próxima etapa da competição no mercado consumidor dependerá da integração entre qualidade dos produtos, construção de marca e vínculo emocional com o público. Segundo ele, trata-se de uma transformação estrutural que redesenha o futuro do consumo no país.
Fonte: gmw.cn


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