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Grandes empresas de robótica impulsionam robôs humanoides, mas produção em massa ainda é desafio

Empresas robôs humanoides
Fonte da imagem: Huang Zongzhi/ Xinhua

Fabricantes de robôs humanoides ganharam visibilidade nos últimos anos com demonstrações de movimentos complexos, mas nos bastidores a cadeia de suprimentos passa por uma transformação. Fornecedores de componentes-chave investem bilhões de RMB, antecipam linhas de produção e aumentam o ritmo de desenvolvimento para garantir espaço no setor.

Apesar disso, a comercialização dos robôs avança lentamente. A pressão recai sobre os fornecedores, que enfrentam dificuldades para equilibrar altos custos de pesquisa e desenvolvimento com uma produção limitada e sem escala. Segundo representantes da Unitree, Agibot e Xpeng Robotics, a maioria dos fornecedores ainda está em fase de investimento inicial.

Baixo volume e indefinição dos cenários limitam avanço

O número total de robôs entregues segue abaixo de mil unidades. As aplicações ainda não foram claramente definidas, o que impõe dois obstáculos principais: o custo elevado dos componentes e a dificuldade de alcançar rentabilidade com produções em pequeno volume. Além disso, o ritmo de desenvolvimento dos componentes ainda impõe restrições ao design dos robôs.

Para ganhar vantagem, empresas constroem linhas próprias de usinagem e desenvolvem manufatura voltada para pequenos lotes. No entanto, a colaboração com fabricantes ainda depende da superação de duas barreiras: a falta de clareza sobre os produtos e a ausência de escala comercial.

Escassez de componentes sob medida atrasa entregas

Durante o Fórum de Aplicações de Tecnologia de Robôs Humanoides 2025 da Gaogong, um fornecedor que já entregou atuadores para empresas como Unitree afirmou que os componentes atuais não atendem com precisão às exigências dos robôs. Em muitos casos, são oferecidas soluções de demonstração com prazos dobrados em relação aos produtos padronizados.

A cadeia de suprimentos segue em formação, diferentemente de setores consolidados como o de veículos elétricos. Um fornecedor da Agibot estima que apenas 30% dos produtos entregues hoje são personalizados.

Um robô humanoide de 1,3 metros, por exemplo, demanda de 30 a 40 células de bateria. Como esses itens estão no topo da cadeia, empresas como a Unitree compram de terceiros. Liu Xinbo, engenheiro da Jiangsu Tenpower, informou que a empresa vendeu cerca de 1 milhão de células para robôs em 2024 — bem abaixo dos 10 milhões destinados a aspiradores robóticos.

Receita com robôs ainda representa fatia pequena

A Hengong Precision Equipment registrou RMB 17,52 milhões em receita com peças para robôs humanoides em 2024, o que corresponde a apenas 1,76% do faturamento principal. Outras empresas, como Zhejiang Sanhua Intelligent Controls e Suzhou Xianglou New Material, citam o setor em relatórios, mas não divulgam dados específicos.

A baixa participação nas receitas reflete o volume reduzido de vendas. Nos últimos 12 meses, a maioria das fabricantes entregou centenas de robôs. A Fourier Robotics distribuiu mais de 100 unidades do modelo GR-1 até o fim de 2024. A Leju Robotics anunciou 200 entregas em 2025, enquanto a UBTech planeja implantar 20 unidades na Dongfeng Liuzhou Motor ainda no primeiro semestre.

Empresas apostam em posicionamento antecipado

Com o mercado ainda incerto, fabricantes de componentes optam por se posicionar antes da consolidação da demanda. Um representante da Jiangsu Hengli Precision afirmou que a empresa prioriza pedidos de grandes clientes como Xiaomi e Xpeng para reduzir riscos.

A produção de itens como redutores harmônicos (10 cm de diâmetro) ou fusos de esfera (3 cm de espessura) exige investimentos de centenas de milhões de RMB. Yang Chunren, da KOMO Robotics, explica que os custos envolvem aquisição de equipamentos, estrutura fabril, controle de qualidade e pessoal especializado.

Em outubro de 2024, a Shanghai Beite Technology anunciou investimento de RMB 1,85 bilhão em uma base de produção de fusos em Kunshan. Em fevereiro de 2025, a Zhejiang XCC Group anunciou RMB 1,5 bilhão para fabricar fusos e rolamentos voltados a robôs humanoides.

Falta de definição de produto trava escala

Segundo Liu Xinbo, os fornecedores ainda não conseguem desenvolver peças sob medida porque os fabricantes não definiram claramente os cenários de aplicação dos robôs. Sem essas informações, os componentes seguem padronizados, o que limita a adaptação às necessidades reais de uso.

A densidade energética das baterias atuais reduz a autonomia dos robôs. Em setores como logística e segurança, isso exige recargas frequentes, comprometendo a eficiência. Além disso, os motores precisam de picos de corrente para movimentos rápidos, o que nem todas as baterias suportam.

Liu explica que os fabricantes reconhecem essas limitações, mas, sem um cenário de uso claro, optam por baterias genéricas. Para ele, a customização só se justifica com demanda consistente e definição de aplicação. Sem essas condições, os protótipos não atendem bem aos testes, o que impede a produção em escala. “É um ciclo vicioso que precisa ser quebrado”, afirma.

Mercado projeta crescimento até 2030

De acordo com o Livro Azul da Indústria de Robôs Humanoides 2025, publicado pelo instituto GGII, a China entregou cerca de 2.400 robôs humanoides até o fim de 2024, quase todos para empresas. Até 2030, o mercado B2B deve chegar a 144.500 unidades. No B2C, a projeção é de 18.000 unidades.

Para atender essa demanda, fornecedores precisam dominar a produção em pequenos lotes e responder rapidamente às mudanças. Yang Chunren acredita que o sucesso depende da colaboração direta com os fabricantes. “Precisamos saber qual a vida útil esperada das peças e o ambiente de uso. Sem essas respostas, não conseguimos ajustar custos nem ampliar a produção.”

Ela estima que, antes da produção em massa, até 90% dos componentes passarão por novas iterações. Por isso, considera essencial desenvolver agilidade na produção em pequena escala.

“No estágio atual, toda a cadeia precisa colaborar. Com uma definição clara de produto, será possível avançar para a produção em escala e ampliar o uso dos robôs humanoides”, conclui.

Fonte: yicai.com