Economia

Exportadores chineses buscam alternativas diante de tarifas dos EUA

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Fonte da imagem: Hu Yousong/ Xinhua

A nova escalada na guerra tarifária entre China e Estados Unidos aumentou a pressão sobre empresas exportadoras chinesas. Em abril, o governo norte-americano impôs uma tarifa de 125% exclusivamente sobre mercadorias chinesas, enquanto concedeu um período de 90 dias com alíquota reduzida de 10% para outros países. Como retaliação, a China aplicou a mesma taxa de 125% sobre os produtos norte-americanos. Nesse cenário, empresas chinesas de exportação enfrentam incertezas. Parte dos clientes de exportadores chineses optou por manter os equipamentos nos portos, já que as tarifas passam a valer no momento da liberação das mercadorias.

Lv Zhengquan, vice-presidente executivo da Welllih Robots Technology, sediada em Yuyao, Ningbo, informou ao portal The Paper que os clientes da empresa são os mais afetados pela nova medida. “Antecipamos que a eleição de Trump poderia elevar tarifas, então nossos agentes enviaram grandes volumes de produtos aos EUA no ano passado e no início deste ano. Os produtos que chegam agora aos portos enfrentarão as novas tarifas se forem retirados”, explicou.

No modelo FOB (Free On Board) adotado pela Welllih, o contrato é concluído no momento em que a carga deixa o porto de origem. Ainda assim, o custo recai sobre os clientes, já que as tarifas passam a valer na entrada no país de destino.“Parte dos equipamentos ainda está nos portos. Os clientes precisam negociar com os agentes para decidir como lidar com o estoque parado”, afirmou Lv.

Pequenos comerciantes avaliam impacto

No mercado de Yiwu, conhecido pela exportação de pequenas mercadorias, comerciantes mostram cautela. Lojas que atendem o mercado interno relatam impacto nulo. Já exportadores mantêm postura de espera.

Vendedores de ferramentas com foco na África, equipamentos de proteção com clientes na América do Sul e artesanato voltado ao Oriente Médio disseram que as tarifas ainda não alteraram seus negócios. Já os de brinquedos de pelúcia e plantas artificiais reconhecem possíveis impactos da disputa tarifária.

Roupas e cosméticos enfrentam incertezas nos pedidos

A Ningbo Haishu Fancy International Trade, especializada em roupas com design 3D e foco nos mercados europeu e americano, também sente os efeitos. Segundo Yuan Lin, gerente geral, muitos clientes suspenderam pedidos. “Após o Ano Novo Chinês, várias fábricas estão sem pedidos. Quando um cliente fecha uma encomenda, os custos já estão definidos. Com a nova tarifa, não há como absorver o prejuízo. O setor de vestuário opera com margens baixas, e o repasse se torna inevitável”, afirmou Yuan.

Yuan explicou que, embora a pandemia tenha sido previsível, o cenário atual gera mais incerteza. “Temos pedidos recentes, mas os clientes podem cancelar por causa das tarifas. Os EUA representam quase metade da nossa receita. No momento, estamos observando. O mercado europeu permanece estável”, disse.

A DongguanMisbeauty Cosmetics, exportadora de máquinas de manicure para a América do Norte, também enfrenta dificuldades. Zeng Jianwei, gerente de comércio exterior, disse que os clientes estão relutantes em fechar novos pedidos. “Alguns clientes pedem renegociação de preços ou redução de frete. Em alguns casos, preferem abandonar a carga a pagar tarifas adicionais.”

Por outro lado, a Anshu (Zhejiang) Industrial Technology, que vende equipamentos de proteção, sente pouco impacto. Segundo o gerente Chen Shengjie, os clientes compram lotes variados e não conseguem substituir facilmente os fornecedores chineses.

Chen destacou que sua empresa não pretende absorver os custos no longo prazo. “Estamos compartilhando parte dos encargos por enquanto, mas os preços devem ser ajustados no futuro”, disse.

A oscilação nas decisões de Trump contribui para a insegurança. Em 7 de abril, ele manteve a política tarifária. Dois dias depois, anunciou uma pausa de 90 dias para negociações.

Diversificação geográfica

Apesar da tensão, a Welllih Robots Technology mantém operações nos EUA, mas com menor dependência. “As vendas continuam, mas os EUA deixaram de ser um mercado central. Antes representavam 30% das vendas; agora, menos de 10%”, disse Lv Zhengquan.

A empresa está expandindo sua atuação na Europa e no Sudeste Asiático e participará de feiras na Alemanha. Também aposta no mercado interno, que apresenta crescimento.

A Leedarson Technology já diversificou sua produção entre China e Tailândia. Segundo o vice-presidente Xu Jianxing, essa estratégia garante flexibilidade diante de riscos geopolíticos. “Vamos ampliar a produção na Tailândia e explorar novos mercados”, afirmou.

Apoio governamental e perspectivas

Governos locais, como os das províncias de Jiangsu e Zhejiang, têm promovido inovação, diversificação de mercados e apoio direto às empresas.

O Ministério do Comércio da China anunciou medidas para enfrentar a instabilidade externa, incluindo incentivo à substituição de bens de consumo e integração entre os mercados interno e externo.

Segundo Chen Shengjie, se as tarifas persistirem, a permanência no mercado americano precisará ser reavaliada.

Para Xu Qiyuan, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, o país deve estimular a demanda interna e orientar empresas a expandirem investimentos no exterior.

Zhang Bin, vice-diretor do Instituto de Economia Mundial e Política, propôs três medidas:

  • Políticas anticíclicas para estimular o consumo interno.
  • Apoio à reestruturação de empresas e diversificação de mercados.
  • Redução de impostos e subsídios diretos para empresas e trabalhadores afetados.

“O importante é garantir que empresas e trabalhadores não enfrentem esses desafios sozinhos”, afirmou Zhang.

Fonte: thepaper.cn