Empreendedorismo

Empresas chinesas enfrentam aumento de fraudes em domínios e atrasos na proteção da propriedade intelectual

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Imagem: Alfândega da China

Empresas chinesas que expandem operações para o exterior enfrentam dificuldades crescentes para proteger suas marcas na internet, diante do aumento de infrações em domínios impulsionadas por inteligência artificial e da baixa participação do país na posse de domínios de topo de marca. O tema foi debatido em um fórum sobre propriedade intelectual promovido pelo Centro Nacional de Engenharia do Sistema de Nomes de Domínio da Internet (ZDNS) e pela Comissão Internacional de Arbitragem Econômica e Comercial da China (CIETAC).

“Antes, prestávamos atenção apenas a marcas registradas e patentes. Só quando surgiram em massa, nos mercados externos, domínios falsificados com o nome da marca combinado a diversos sufixos é que percebemos as brechas na proteção de domínios”, afirmou o diretor jurídico de uma empresa chinesa de equipamentos eletrônicos voltada ao comércio internacional.

O relato reflete um problema comum entre empresas chinesas que atuam fora do país. Com o uso de IA facilitando a criação em escala de domínios falsos e com a aproximação da segunda rodada de pedidos de novos domínios genéricos de topo (gTLDs) da ICANN, prevista para 2026, os domínios deixaram de ser apenas um recurso técnico e passaram a integrar a estratégia de proteção da propriedade intelectual no comércio internacional.

Infrações em domínios crescem com IA, enquanto China tem baixa participação em gTLDs

Uma pesquisa global da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN) indica que mais de 98% dos líderes de marketing entrevistados na China acreditam que os domínios genéricos de topo podem gerar benefícios relevantes para suas organizações, segundo Zhang Jianchuan, diretor sênior de cooperação com stakeholders da ICANN na região Ásia-Pacífico.

Apesar disso, os dados históricos mostram uma participação limitada das empresas chinesas. Na primeira rodada de pedidos de gTLDs, em 2012, companhias da Europa e da América do Norte receberam 1.586 aprovações, mais de 80% do total. A Amazon obteve 55 domínios e o Google, 46. As empresas chinesas receberam 41 aprovações, menos de 4%.

De acordo com estatísticas da ICANN, a China possui apenas cinco domínios de topo de marca, o mesmo número da Índia, país que conta com apenas oito empresas na lista Fortune Global 500. O número fica muito abaixo de países como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França, que somam 98 domínios de topo de marca.

Segundo Feng Shuo, chefe do Grupo de Promoção de Inovação e Desenvolvimento de Marcas Digitais do Comitê de Recursos Básicos da Internet da Associação Chinesa da Internet, a IA acelerou esse tipo de infração. “A inteligência artificial levou as infrações de domínios à era da produção em massa”, afirmou.

Ele explica que infratores usam IA para gerar variações semelhantes de domínios, criar sites falsificados com alto grau de fidelidade visual e explorar diferenças legais entre países para evitar responsabilização. Segundo Feng, os litígios internacionais envolvendo domínios aumentam ano a ano, e mesmo quando a defesa é bem-sucedida, o prejuízo já ocorreu.

Domínios de topo como ferramenta de proteção em múltiplas camadas

Entrevistas com a equipe de pesquisa do ZDNS e com empresas chinesas atuantes no mercado internacional indicam três funções centrais dos domínios de topo de marca na proteção transfronteiriça da propriedade intelectual.

A primeira é o controle direto do ambiente digital. Ao operar um domínio de topo próprio, a empresa define as regras de registro e controla os domínios de segundo nível, o que reduz o risco de apropriação indevida. O grupo CITIC, por exemplo, estruturou sua presença digital com o domínio “.citic”, criando endereços como “group.citic” e “citicbank.citic”.

A segunda função é facilitar a expansão internacional. Atualmente, existem 1.443 domínios de topo no mundo, muitos com exigências regulatórias específicas. O domínio “.eu” exige documentação por meio de registradores locais; o “.au” requer presença física ou parceria na Austrália; e o “.br” exige registro formal de empresa no Brasil. Um domínio de topo de marca próprio permite contornar essas limitações e criar um ecossistema digital exclusivo.

A terceira função é a centralização dos ativos de marca. Segundo o responsável de TI de uma grande empresa chinesa de e-commerce transfronteiriço, gerenciar múltiplas marcas e operações em vários países sempre foi um desafio. A adoção de um domínio de topo próprio permite manter uma entrada digital unificada, com adaptações locais, preservando a consistência da marca e fortalecendo a confiança do consumidor.

Janela de 2026 reacende disputa por domínios de topo

A ICANN abrirá a segunda rodada de pedidos de novos domínios genéricos de topo em abril de 2026, a primeira desde 2012. “Essa é uma oportunidade para que marcas globais solicitem e operem seus próprios domínios de topo”, afirmou Zhang Jianchuan.

Segundo informações do setor, empresas estrangeiras e registradores como Unstoppable Domains, Freename e Nova já anunciaram planos para solicitar centenas de domínios. Ainda não há confirmação se alguns desses identificadores coincidem com marcas chinesas.

Para Feng Shuo, a proteção de domínios deve ser tratada como parte da infraestrutura básica da propriedade intelectual internacional. Ele recomenda que empresas chinesas adotem quatro medidas: monitorar riscos de interrupção de serviços de domínios, priorizar domínios geridos pela China, avaliar a solicitação de domínios de topo de marca e investir em sistemas de backup e DNS resilientes para garantir a continuidade das operações.

Fonte: gmw.cn