Um episódio recente agitou as redes sociais na China depois que um jovem chinês recém-formado foi agredido por seu chefe por se recusar a brindar e beber álcool em um jantar do banco onde trabalha. O rapaz é alérgico a álcool. A recusa do jovem teria sido fortemente repreendida e considerada como desrespeito pelo chefe. Depois de comentar em uma rede social sobre o ocorrido, a história viralizou e levantou uma discussão sobre a prática de beber em ambiente de negócios ou empresarial.
Na China, a cultura de beber em banquetes de negócios é levada muito a sério. As gerações mais velhas acreditam que o álcool deixa as pessoas mais relaxadas e abertas para dizer o que tem sua mente, o que é algo importante quando se está em uma negociação. Além disso, é no ato de brindar e beber em conjunto que se estabelece uma relação mais próxima, elevando até o nível de relação de confiança. Para os chineses, relacionamento pessoal é fundamental para a realização de negócios, e o álcool seria um facilitador nesse processo. A quantidade ingerida é proporcional ao comprometimento e confiança que as pessoas têm umas com as outras.
A cultura de beber tem a ver com poder e mianzi. Mianzi é um conceito da cultura chinesa que significa prestígio, respeito que outros têm por uma pessoa e status. Beber, ou beber muito, mostra poder e faz ganhar mianzi. No caso do jovem ter recusado brindar com álcool pode ser interpretado como perda de mianzi pelo chefe perante outras pessoas.
Os chineses entendem que saber beber é bom para o negócio e a carreira. Os jovens (mais comuns entre homens do que mulheres) são ensinados a beber álcool quando adolescentes como parte do preparo para a vida adulta e profissional. Sem beber com os chefes e colegas de trabalho, um jovem chinês tem muitas dificuldades para conseguir promoção e aumento. Para avançar na carreira é preciso cumprir o protocolo de beber com os chefes. É como se a bebida estivesse na lei de sobrevivência no mercado de trabalho.
As gerações mais velhas entendem o ato beber álcool como a valorização da participação coletiva, acima do bem-estar do indivíduo, e que os mais jovens que têm de aprender e praticar. Os jovens, por sua vez, seguem as regras para não perder seus empregos e garantir o avanço na carreira. No entanto, hoje em dia, eles têm tentado mudar essa prática. A geração pós-90 não quer mais fazer parte desses rituais de bebedeiras no trabalho e consideram preservar a saúde algo importante.
Como é com estrangeiros
Para os estrangeiros que fazem negócios na China, a parte dos banquetes de negócios é uma das mais desafiadoras. Estrangeiros interessados em ter, por exemplo, o investimento dos chineses, se vêem na obrigação seguir os costumes chineses de brindar várias vezes com o baijiu, a cachaça chinesa feita de arroz ou sorgo, e de alto teor alcoólico.
Quando se tem uma relação em que os interessados são os estrangeiros, então esses terão de seguir protocolo chinês de brindar com baijiu. Pela tradição chinesa, só assim o estrangeiro seria capaz de mostrar ao chinês a sua boa intenção e real interesse em desenvolver um negócio juntos.