O jogo mobile Delta Force: Hawk Ops ultrapassou 10 milhões de registros em quatro dias após o lançamento global. Já Wuthering Waves, ainda em pré-download, liderou as paradas de jogos gratuitos da App Store em 107 países e regiões. A presença internacional dos jogos chineses segue em expansão. Segundo o Relatório Trimestral da Indústria de Jogos da China – 1º trimestre de 2025, a receita real de vendas no mercado internacional de jogos desenvolvidos localmente chegou a US$4,805 bilhões, alta de 17,92% na comparação anual.
Políticas públicas impulsionam expansão internacional
Em 2024, o jogo Black Myth: Wukong ampliou a visibilidade dos títulos chineses ao conquistar espaço global. Desde então, mais empresas têm buscado o mercado externo.
Em 20 de junho, a NetEase anunciou Blood Message, jogo de ação e aventura ambientado na dinastia Tang. O trailer atraiu comentários positivos de jogadores estrangeiros, que destacaram o protagonismo de personagens chineses e o cenário histórico local.
De acordo com He Wei, professor da Escola de Artes e Comunicação da Universidade Normal de Pequim, os jogos chineses já alcançam centenas de milhões de jogadores fora do país. Além de jogar, muitos fãs produzem fanarts e visitam locais presentes nos títulos. Os jogos passaram a funcionar como vitrine cultural da China contemporânea.
Esse movimento conta com apoio institucional. O Ministério do Comércio divulgou um plano de abertura do setor de serviços que inclui toda a cadeia da indústria de jogos voltada ao exterior, da criação de propriedade intelectual à operação internacional.
Em maio, quatro ministérios publicaram a lista de Empresas e Projetos Culturais Prioritários de Exportação (2025–2026). Entre os nomes estão Tencent, NetEase e miHoYo, além de jogos como Genshin Impact, Arknights e Bladepoint.
Nos governos locais, Pequim propôs um centro de exportação de jogos com canais rápidos de aprovação. Cantão criou 13 medidas que vão da criação à integração com o turismo cultural. Zhejiang adotou 20 políticas que incluem apoio jurídico e proteção de propriedade intelectual.
Segundo um porta-voz da miHoYo, as condições atuais favorecem a entrada das empresas no mercado internacional com apoio financeiro e institucional.
Tecnologia e localização como estratégias centrais
Para He Wei, o sucesso dos jogos chineses no exterior se deve principalmente à qualidade da experiência de jogo. Títulos como Black Myth: Wukong e Genshin Impact competem com os melhores do mundo nesse quesito.
A Tencent apostou em tecnologia no desenvolvimento de Delta Force: Hawk Ops. O jogo alcançou o topo da App Store em 169 países. Segundo o produtor Guo Zhi, a equipe técnica resolveu mais de 200 problemas por dia durante os testes internacionais. A qualidade técnica foi decisiva para entrar no mercado global de FPS.
O estúdio usou 65 câmeras 4K para capturar 140 fotos por segundo e gerar modelos 3D com 20 milhões de polígonos. O áudio espacial contou com mais de 30 mil amostras para ampliar a imersão dos jogadores.
Além disso, Delta Force: Hawk Ops é o primeiro jogo de tiro da Tencent com jogabilidade cruzada entre PC e celular. A decisão de incluir versão para desktop ocorreu após consultas com desenvolvedores e jogadores internacionais. “A mudança ampliou a experiência do jogador e aumentou a complexidade técnica, mas foi o caminho certo”, afirmou Guo Zhi.
Outro fator decisivo é a adaptação cultural. A miHoYo explicou que é preciso pensar globalmente desde a fase de desenvolvimento. Em Genshin Impact, o continente fictício Teyvat inclui regiões inspiradas em diferentes culturas, da Europa medieval ao Norte da África. A estratégia amplia o reconhecimento e a identificação entre os jogadores estrangeiros.
Outras empresas seguem a mesma lógica. A Moonton incorporou heróis do Sudeste Asiático em Mobile Legends: Bang Bang. Já a 37 Interactive incluiu eventos natalinos e temas ocidentais em Puzzles & Survival. Esses ajustes contemplam desde trilhas sonoras até design de personagens.
Cultura tradicional atrai novos públicos
A cultura chinesa passou a ser um diferencial competitivo. Nos últimos cinco anos, o número de jogos com elementos tradicionais da China triplicou. Esses títulos combinam artes marciais, poesia, música e estética local com mecânicas modernas.
Em Zenless Zone Zero, o personagem Pan Yinhu mistura aparência de panda com técnicas de Bājíquán, estilo de luta chinês. Já Genshin Impact criou o evento Lantern Rite, inspirado no Festival das Lanternas e no Ano Novo Lunar, com atividades típicas como fogos, adivinhações e desfiles.
Em janeiro, Girls’ Frontline 2, da Sunborn Network, lançou um traje bordado à mão em parceria com uma mestra de Suzhou, patrimônio cultural imaterial. O item viralizou nas redes sociais.
Segundo Huang Chong, CEO da Sunborn, o jogo se transformou em vitrine para o guochao, tendência que valoriza elementos da cultura chinesa moderna. “A Geração Z enxerga os jogos como espaço emocional, social e cultural. Um bom jogo conecta o público global à essência da civilização chinesa.”
Para o professor He Wei, jogabilidade, enredo e audiovisual funcionam como iscas para introduzir a cultura local. “É uma forma sutil, mas eficaz de soft power.”
Desafios permanecem
Apesar do avanço, o setor enfrenta obstáculos. Entre os principais estão a segmentação das campanhas internacionais, a atração de talentos locais e o alinhamento às legislações estrangeiras.
He Wei alerta que vários países já tratam os jogos como ativos culturais estratégicos e oferecem incentivos à indústria. Para ele, a China precisa estruturar melhor seu planejamento de longo prazo.
Especialistas apontam que o ecossistema ainda requer melhorias. Isso inclui desde a formação de profissionais até a integração com áreas como esportes eletrônicos, turismo e inteligência artificial.
Fonte: news.china.com.cn
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