A China concluiu o primeiro ensaio clínico prospectivo com interface cérebro-computador (ICC) invasiva, segundo a Academia Chinesa de Ciências. O Centro de Excelência em Neurociência e Tecnologia Inteligente, em parceria com o Hospital Huashan da Universidade de Fudan e empresas do setor, liderou o estudo. Com essa realização, o país se tornou o segundo no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, a testar a tecnologia em ambiente clínico.
O voluntário do estudo perdeu os quatro membros em um acidente com alta voltagem. Em março, os pesquisadores implantaram dois eletrodos flexíveis no córtex cerebral do paciente. Os eletrodos, ligados a um dispositivo do tamanho de uma moeda fixado no crânio, captam sinais cerebrais e transmitem, sem fio, comandos para computadores externos.
Zhao Zhengtou, pesquisador do centro, informou que o paciente não apresentou infecções nem falhas nos eletrodos até o momento. Após duas a três semanas de treinamento, o participante conseguiu controlar jogos virtuais de xadrez e corrida apenas com os pensamentos.
As ICCs classificam-se em invasivas, semi-invasivas e não invasivas, conforme o nível de contato com o tecido cerebral. As invasivas oferecem maior qualidade na captação dos sinais, mas apresentam complexidade maior. Pu Muming, diretor científico do centro e membro da Academia Chinesa de Ciências, destacou que esse tipo de pesquisa existe há quase 30 anos e envolve a inserção de eletrodos em regiões específicas do cérebro para fins terapêuticos.
Antes desse avanço, o progresso da tecnologia enfrentava obstáculos como miniaturização, sistematização e transmissão sem fio dos dispositivos. Pacientes precisavam usar capacetes grandes para conectar o cérebro a equipamentos externos, tornando o uso pouco prático.
Além do tamanho, os eletrodos rígidos usados anteriormente causavam danos ao tecido cerebral. Para resolver essas limitações, a equipe desenvolveu eletrodos neurais flexíveis, que reduzem o impacto nas células cerebrais e permitem a captação de sinais em alta densidade, com transmissão eficiente por longos períodos. Esses eletrodos passaram por testes em roedores, primatas não humanos e cérebros humanos, comprovando estabilidade e compatibilidade.
Lu Junfeng, vice-diretor de neurocirurgia do Hospital Huashan, afirmou que a precisão na implantação dos eletrodos foi garantida por imagens combinadas de ressonância magnética funcional e tomografia computadorizada. A equipe criou um modelo tridimensional personalizado do cérebro do paciente para identificar com exatidão a área do córtex motor a ser acessada, realizando o procedimento com precisão milimétrica.
Zhao apontou que, após aprovação regulatória e comercialização, a tecnologia pode melhorar a qualidade de vida de pacientes com lesão completa da medula espinhal, amputações ou esclerose lateral amiotrófica (ELA). O próximo passo será testar o controle de braços robóticos e dispositivos físicos complexos pelo paciente, ampliando as possibilidades de interação.
Fonte: jingjiribao.cn
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