Em 2025, o Brasil alcançou um marco histórico na pecuária mundial. Segundo dados oficiais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país superou os Estados Unidos e tornou-se o maior produtor global de carne bovina, consolidando uma posição que já vinha sendo construída ao longo de décadas por meio de ganhos de escala, produtividade e inserção internacional.
Mais do que uma mudança estatística, o novo ranking evidencia diferenças estruturais relevantes entre os dois maiores produtores do mundo — incluindo modelos produtivos, práticas regulatórias e exigências sanitárias, entre elas o uso de hormônios na produção de carne bovina.
De acordo com o relatório “Livestock and Poultry: World Markets and Trade”, publicado pelo USDA – Foreign Agricultural Service, a produção brasileira de carne bovina em 2025 foi estimada em aproximadamente 12,35 milhões de toneladas em equivalente carcaça, enquanto a produção norte-americana ficou em torno de 11,81 milhões de toneladas.
Essa é a primeira vez na série histórica do USDA que o Brasil ocupa isoladamente a liderança mundial em produção de carne bovina, superando os Estados Unidos segundo a metodologia internacionalmente aceita de equivalente carcaça.
O crescimento da produção brasileira não está associado a uma expansão indiscriminada de área ou ao uso intensivo de insumos proibidos, mas sim a fatores estruturais consolidados como avanços genéticos e nutricionais, a melhoria no manejo de pastagens, maior eficiência produtiva por animal, além da profissionalização da cadeia frigorífica e a adequação crescente a protocolos sanitários internacionais. Esses elementos permitiram ao Brasil elevar o volume produzido mantendo competitividade e acesso a mercados altamente regulados.
Um dos pontos mais relevantes — e frequentemente mal compreendidos no debate internacional — diz respeito ao uso de hormônios como promotores de crescimento. No Brasil, o uso de hormônios para promoção de crescimento em bovinos destinados à produção de carne é proibido por legislação federal. Essa diretriz é estabelecida e fiscalizada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), por meio de seus sistemas de controle sanitário, registro de produtos veterinários e fiscalização oficial.
A carne bovina produzida no Brasil não utiliza hormônios como promotores de crescimento, é submetida a programas oficiais de inspeção, e atende a exigências sanitárias de mercados que proíbem esse tipo de substância, como a União Europeia.
É importante destacar que substâncias hormonais podem ser utilizadas em protocolos reprodutivos, como sincronização de cio, o que é tecnicamente distinto do uso de hormônios para engorda ou ganho de peso. Esses procedimentos são regulados, rastreáveis e não têm relação com resíduos hormonais na carne destinada ao consumo.
Nos Estados Unidos, o cenário regulatório é diferente. O uso de hormônios como promotores de crescimento em bovinos de corte é legal e amplamente adotado, sob regulamentação da U.S. Food and Drug Administration (FDA). Esses hormônios, naturais ou sintéticos, são utilizados por meio de implantes para acelerar o ganho de peso, melhorar a conversão alimentar, e reduzir custos de produção.
As autoridades sanitárias norte-americanas consideram essa prática segura para o consumo humano, e a carne produzida sob esse modelo é amplamente comercializada no mercado interno e em países que aceitam esse tipo de tecnologia.
Por outro lado, essa carne não é aceita em mercados que proíbem hormônios, como a União Europeia, o que historicamente gerou disputas comerciais internacionais.
Para países importadores, em especial a China, maior compradora mundial de carne bovina, essas diferenças regulatórias são estratégicas.
O Brasil reúne hoje três atributos fundamentais como escala produtiva, capacidade de fornecimento contínuo, e produção alinhada a mercados que restringem o uso de hormônios.
Esse conjunto fortalece a posição brasileira como fornecedor estratégico de proteína animal, especialmente em um contexto de crescente atenção global à segurança alimentar, rastreabilidade e exigências sanitárias.
O próprio USDA projeta que, em 2026, a produção brasileira possa recuar levemente, aproximando-se novamente da produção norte-americana, em função do ciclo pecuário. Ainda assim, o marco de 2025 permanece simbólico e estrutural.
O Brasil deixa de ser apenas o maior exportador para se consolidar também como o maior produtor mundial de carne bovina, com um modelo produtivo que combina escala, competitividade e aderência a normas sanitárias restritivas.
A liderança brasileira na produção mundial de carne bovina em 2025 reflete mais do que volume. Ela expressa um modelo produtivo distinto, baseado em eficiência, clima favorável, tecnologia tropical e proibição do uso de hormônios como promotores de crescimento, em contraste com o modelo adotado pelos Estados Unidos.
Para o mercado global — e particularmente para a China — esse diferencial amplia a relevância estratégica do Brasil como fornecedor confiável de proteína animal em um cenário de transformação da geopolítica dos alimentos.


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