O aumento nos preços dos chips de memória já impacta o mercado global de smartphones e levou fabricantes a reajustarem valores de aparelhos topo de linha, especialmente na China.
Na noite de 25 de dezembro, a Xiaomi lançou o Xiaomi 17 Ultra e anunciou aumentos de preço em toda a linha. Segundo a empresa, a alta nos custos dos chips de armazenamento motivou o reajuste. O modelo de entrada passou a oferecer 12 GB de RAM e 512 GB de armazenamento, ao preço inicial de 6.999 yuans, alta de 500 yuans em relação à geração anterior, que tinha 256 GB. A versão com 16 GB de RAM e 512 GB custa 7.499 yuans, também com aumento de 500 yuans. Já o modelo com 16 GB e 1 TB teve reajuste de 700 yuans e chegou a 8.499 yuans.
Desde o início de 2025, os preços dos chips de memória seguem em alta, enquanto a oferta permanece limitada. Esse cenário pressiona empresas de eletrônicos de consumo, sobretudo fabricantes de smartphones, que dependem de grandes volumes de memória RAM e armazenamento.
Antes do lançamento, Lu Weibing, sócio e presidente do Grupo Xiaomi, antecipou o reajuste durante uma transmissão ao vivo. Segundo ele, o aumento nos custos da memória superou os acréscimos ligados a processadores e câmeras. “O aumento significativo no custo da memória superou em muito o aumento no custo do processador e da configuração da câmera. Por isso, enfrentamos grande pressão para definir os preços”, afirmou.
Lu explicou que, no desenvolvimento do Xiaomi 15 Ultra, a empresa não considerou a alta da memória. Na época, o preço de 6.499 yuans era visto como um limite. Com a mudança no cenário, a Xiaomi precisou rever a estratégia.
Segundo a IDC, a Xiaomi vendeu 168 milhões de smartphones em 2024, o que garantiu à empresa a terceira posição no ranking global. Mesmo com esse volume, a companhia não conseguiu negociar condições mais favoráveis com fornecedores de chips de memória.
Segundo Lu Weibing, a expansão acelerada da inteligência artificial nos últimos três anos elevou a demanda por computação de alto desempenho (HPC). Antes, os smartphones lideravam o consumo de memória. Agora, a demanda por infraestrutura de IA supera a do mercado móvel. Para o executivo, o período entre 2025 e 2027 será marcado por custos elevados de memória.
O impacto se estende a outros fabricantes. Luo Feng, vice-presidente de produto da iQOO, marca gamer da Vivo, afirmou ao jornal The Paper que a alta dos preços da memória afeta toda a indústria. Segundo ele, o reajuste influencia não apenas o preço inicial dos lançamentos, mas todo o ciclo de vida dos produtos, inclusive durante grandes campanhas promocionais.
Luo explicou que, em anos anteriores, os modelos principais recebiam descontos mais expressivos em datas promocionais. Com o aumento nos custos da memória, os cortes de preço ficaram menores. Isso afetou o ritmo de vendas, o planejamento de estoque e a previsibilidade de preços. Segundo ele, resta às marcas focar na qualidade do produto, já que não há como neutralizar aumentos generalizados de custos.
Esse movimento já aparece nos preços de outros modelos topo de linha. Entre setembro e outubro, a série vivo X200 teve reajuste médio de 300 yuans. A linha OPPO Find X8 subiu cerca de 200 yuans, enquanto a Honor Magic7 registrou aumento próximo de 100 yuans.
Apesar do cenário, fabricantes evitam comentar publicamente o impacto da alta dos chips de memória. Uma fonte anônima do setor afirmou que, caso os preços continuem subindo e os valores dos aparelhos não acompanhem o movimento, algumas marcas podem operar no prejuízo em 2026. Segundo a fonte, mesmo contratos de longo prazo tendem a expirar e serão renegociados com base nos novos preços.
Guo Tianxiang, gerente de pesquisa da IDC China, afirmou ao The Paper que fabricantes chineses já elevaram os preços de seus principais modelos no segundo semestre e que novos aumentos devem ocorrer no próximo ano. Ele destacou que a redução da diferença de preço entre smartphones Android premium e aparelhos da Apple pode levar parte dos consumidores a migrar para a marca americana, que mantém maior controle de custos e margens de lucro mais estáveis, sobretudo no mercado chinês.
Guo também citou a estratégia da Huawei como fator adicional de pressão. Em 25 de novembro, a empresa lançou a série Mate 80 com redução inicial de 800 yuans, o que elevou a concorrência no segmento premium.
No segmento intermediário, Guo afirmou que os aparelhos também devem sofrer reajustes em 2026, embora menores do que os modelos de ponta. Ainda assim, o aumento pode levar consumidores a adiar a troca de aparelhos. Já os smartphones de entrada enfrentam maior pressão de custos, com pouca margem para cortes adicionais. Nesse contexto, alguns fabricantes devem reduzir linhas de produtos de baixo custo e volumes de envio.
Para 2026, a prioridade das fabricantes será garantir o fornecimento de chips de memória e tentar negociar preços. Mesmo empresas que já iniciaram negociações ainda não conseguiram fixar valores para o próximo ano. A expectativa é que os preços permaneçam em alta ao menos até o primeiro semestre de 2026 e sigam elevados até 2027, quando nova capacidade produtiva deve entrar em operação.
Segundo Guo, o mercado global de smartphones tende a encolher em 2026. Esse cenário pode favorecer marcas maiores, enquanto aumenta a pressão sobre fabricantes de menor porte.
A TrendForce, empresa independente de consultoria, também aponta incertezas para 2026. A inflação deve continuar afetando o consumo, enquanto o setor de memória entra em um ciclo de alta. Isso eleva o custo dos dispositivos e pressiona os preços finais ao consumidor.
Diante desse cenário, a TrendForce revisou suas projeções globais de produção e remessas. A expectativa de crescimento anual de smartphones caiu de 0,1% para uma retração de 2%. No mercado de laptops, a projeção passou de crescimento de 1,7% para queda de 2,4%. A consultoria alerta que, se o desequilíbrio entre oferta e demanda de chips de memória se intensificar ou se os preços ao consumidor subirem acima do previsto, novas revisões para baixo podem ocorrer.
Fonte: The Paper


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