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Alta no consumo de café na China abre espaço para exportações brasileiras em meio a tensão com os EUA

Exportação café China
Fonte da imagem: Wang Tiancong/ Xinhua

O consumo de café na China mais do que dobrou entre 2020 e 2024, com um salto de 130,8 mil toneladas nas importações líquidas da bebida, segundo dados alfandegários. A taxa média de crescimento anual no período chegou a 65,7%. Apesar do avanço, o consumo per capita ainda é baixo, cerca de 16 xícaras por ano, diante da média global de 240, o que indica espaço para expansão adicional.

Essa transformação no padrão de consumo vem sendo impulsionada principalmente por jovens urbanos e por uma classe média em expansão, que passou a incorporar o café na rotina sem abrir mão do tradicional chá. “Hoje, a China consome cerca de 3 bilhões de dólares em café por ano, mas as projeções indicam que esse número deve ultrapassar os 6 bilhões até 2030”, afirmou Daniel Lau, diretor comercial do IEST Group, em entrevista à CNN Brasil. Segundo ele, o crescimento de quase 80% será impulsionado por novos hábitos sociais e esportivos, além de mudanças de comportamento no varejo chinês.

Nos últimos anos, o café deixou de ser um produto restrito às grandes cidades e ganhou espaço até em regiões rurais, onde as vendas já superam os volumes registrados nos centros urbanos. A demanda inclui desde cafés solúveis até grãos premium, como o tipo Bourbon ou blends com notas frutadas, o que abre margem para a entrada de produtos brasileiros com maior valor agregado.

O momento é estratégico para o Brasil, que enfrenta novos entraves comerciais com os Estados Unidos. No dia 6 de agosto, entrou em vigor a elevação de 50% nas tarifas sobre o café brasileiro, determinada ainda durante o governo Trump. A medida afeta diretamente a competitividade do produto no mercado norte-americano, um dos principais destinos das exportações brasileiras.

Diante desse novo cenário, a Embaixada da China no Brasil anunciou a habilitação de 183 novas empresas brasileiras para exportar café ao país asiático. Segundo a Agência Brasil, a autorização tem validade de cinco anos e entrou em vigor em 30 de julho, mesmo dia da formalização da tarifa norte-americana.

“O Brasil está cada vez mais presente no dia a dia do cidadão chinês”, observa Lau. “Seja no café feito em casa, nas cafeterias, no açúcar ou nas proteínas animais consumidas nas refeições, há uma forte presença de produtos brasileiros. E com o aumento do poder aquisitivo da classe média chinesa, essa tendência só tende a crescer.”