O Grupo Volkswagen, tradicionalmente sediado em Wolfsburg, na Alemanha, tem direcionado seus investimentos futuros para a China. A empresa não apenas depende do desempenho local para manter resultados, mas vem ampliando seus aportes na eletrificação e digitalização de seus veículos. Nos últimos três anos, aumentou os investimentos em arquitetura elétrica, plataformas de modelos e sistemas inteligentes. Agora, amplia a estratégia para o desenvolvimento de chips.
Durante a CIIE, o CEO Oliver Blume e Yu Kai, fundador da fabricante chinesa de semicondutores Horizon Robotics, anunciaram uma parceria para criar um chip System-on-Chip (SoC) com design e pesquisa próprios. O componente será usado em modelos de condução autônoma de nível L3 e superior produzidos pela Volkswagen na China.
Segundo o portal chinês Jiemian News, o investimento inicial da parceria é de US$200 milhões. O desenvolvimento será conduzido pela joint venture CARIZON, formada pela unidade de software CARIAD e pela Horizon. A CARIZON já é responsável pelo primeiro sistema avançado de assistência à condução desenvolvido localmente pela Volkswagen, com início de produção previsto para 2025.
O novo chip deve entrar em produção em série entre três e cinco anos, com capacidade de processamento entre 500 e 700 TOPS por unidade, suficiente para decisões em tempo real e redundância de segurança. A Volkswagen China afirmou que o projeto marca o início de uma nova fase no desenvolvimento de tecnologias de condução autônoma no país.
Blume declarou que o mercado chinês será decisivo para o avanço das principais tecnologias do grupo. Com o desenvolvimento de chips e software no país, a Volkswagen busca fortalecer sua capacidade de inovação e consolidar a China como um polo global de pesquisa e desenvolvimento da marca.
Em 2023, a empresa criou a Volkswagen China Technology Company (VCTC), reunindo todas as áreas de desenvolvimento de modelos no país. É a primeira vez que a montadora estabelece fora da Alemanha uma estrutura de P&D com autonomia completa, do design à gestão de compras.
O grupo também transferiu ao time chinês o desenvolvimento da arquitetura elétrica e eletrônica, considerada o núcleo dos veículos inteligentes. Parte do investimento na XPeng tem como objetivo aproveitar sua experiência local para apoiar a criação da nova arquitetura CEA (China Electrical Architecture), desenvolvida em conjunto pela VCTC e CARIAD China.
Segundo o CEO da CARIAD China, Han Sanchu, a CEA representa a reconstrução do sistema de desenvolvimento de produtos da Volkswagen, ampliando o foco antes voltado à padronização de hardware para o campo do software. A partir de 2026, a CEA será aplicada em quatro modelos elétricos de entrada desenvolvidos sobre a plataforma CMP. O primeiro modelo foi apresentado na CIIE e deve ser produzido pela FAW-Volkswagen em 2026. A arquitetura também será usada em modelos híbridos e a combustão, cobrindo cerca de 80% da linha da marca no país.
Com o anúncio da parceria em chips, os investimentos da Volkswagen na China já superam 100 bilhões de yuans (cerca de US$14 bilhões). O grupo pretende construir um ecossistema completo de P&D local, incluindo chips, software, sistemas e plataformas de veículos.
O analista automotivo Mei Songlin afirmou ao Jiemian News que o plano envolve riscos altos. Caso a Volkswagen não consiga lançar modelos competitivos, pode enfrentar forte queda de lucros na China e perder relevância frente às montadoras locais. Han Sanchu, porém, defendeu a estratégia acelerada: “Se não construirmos agora uma capacidade sistêmica de P&D completa, poderemos ficar para trás já no próximo ano.”
A arquitetura CEA foi desenvolvida em 18 meses, menos da metade do tempo médio do setor. O novo sistema, aliado a uma cadeia de fornecedores locais, pode reduzir custos de desenvolvimento em até 40% e elevar a eficiência de P&D em 30%.
O grupo pretende, em seguida, desenvolver uma nova plataforma elétrica própria, chamada CSP (China Scalable Platform), sem parceria com a XPeng. O objetivo é dominar integralmente o código e a arquitetura de software.
A Volkswagen tenta reverter o atraso na eletrificação. Sob o comando de Herbert Diess, investiu US$7 bilhões na plataforma MEB, mas os resultados na China ficaram abaixo das expectativas. A pressão financeira se intensificou: no terceiro trimestre de 2025, o grupo registrou prejuízo líquido de €1,07 bilhão e resultado operacional negativo de €1,29 bilhão, o primeiro em quase cinco anos.
Para garantir a execução da nova estratégia, a CARIAD China aplicou testes técnicos para selecionar cerca de 500 engenheiros, treinados em parceria com a XPeng. A meta é acelerar a formação de competências internas e acompanhar de perto a evolução da arquitetura CEA.
Antes da abertura da CIIE, Oliver Blume esteve em Pequim para discutir o andamento da transformação com a equipe local e visitou a fábrica da Volkswagen Anhui, em Hefei, onde testou o novo modelo ID.EVO, que será um dos primeiros frutos da nova fase elétrica da marca. O mercado chinês dirá, no próximo ano, se a aposta bilionária da Volkswagen dará retorno.
Fonte: Jiemian News


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