Os microdramas chineses, também chamados de minidramas, deixaram de ser apenas uma tendência passageira nas redes sociais e se tornaram um dos principais formatos de entretenimento digital na China. Em junho de 2025, o aplicativo de microdramas Hongguo, da ByteDance, registrou 212 milhões de usuários ativos mensais, de acordo com dados da Questmobile.
Esse tipo de conteúdo surgiu em 2018, logo depois do lançamento do TikTok. São episódios curtos, de até três minutos, gravados na vertical e pensados para o consumo rápido no celular. Só em 2024, foram produzidos mais de 8.000 títulos no país, dez vezes mais do que no resto do mundo, de acordo com a Daxue Consulting. O setor movimentou 50,4 bilhões de yuans (US$6,9 bilhões) no ano, com receita vinda principalmente de assinaturas, publicidade e compras dentro dos aplicativos.
A diferença em relação à TV tradicional está no tempo e no custo. Enquanto uma série pode levar meses para ser gravada e custar dezenas de milhões de yuans, um minidrama sai em poucos dias, com orçamento de até 800 mil yuans (cerca de US$112 mil).
O crescimento do formato abriu caminho para novos aplicativos como o Hongguo, lançado em 2023. O app adotou um modelo gratuito, em que o próximo episódio é liberado após a exibição de anúncios. Em junho de 2025, a base de usuários ativos chegou a 212 milhões, alta de 179% em um ano, segundo a Questmobile. O resultado colocou o Hongguo à frente do Youku, plataforma de vídeos longos, e muito próximo do BiliBili. Foi a primeira vez que um aplicativo de microdramas superou serviços tradicionais de vídeo na China.
Especialistas já chamam o Hongguo de “microdrama 2.0”, pois combina acesso gratuito para o público, divisão de receita com os criadores e recomendações feitas pelo algoritmo do Douyin. O modelo impulsionou séries que ultrapassaram a marca de 1 bilhão de visualizações. Hoje, o aplicativo é considerado o maior sucesso da ByteDance depois do Douyin e do TikTok.
Publicidade e consumo digital em microdramas
Marcas passaram a usar os minidramas como estratégia de marketing. Segundo o Relatório Estatístico sobre o Desenvolvimento da Internet na China, divulgado em agosto de 2024, 52,4% dos internautas chineses consomem esse tipo de conteúdo. A Kans, marca chinesa de cuidados com a pele, investiu 50 milhões de yuans em cinco produções com o influenciador @Jiang17. O projeto gerou 3,34 bilhões de yuans em vendas e mais de 50 bilhões de visualizações, segundo a Daxue Consulting.
Com esse alcance, a ByteDance já testa novos caminhos para o Hongguo. Entre os planos estão uma assinatura sem anúncios e a inclusão de vídeos curtos de não ficção, em linha com o Douyin. A empresa também avalia levar o aplicativo para fora da China, em busca de novos mercados.
Além das marcas, as plataformas de streaming também começaram a se adaptar a essa nova tendência. Em abril de 2025, o fundador e CEO da iQiyi, Gong Yu, anunciou que a empresa entrou oficialmente no mercado de e-commerce de conteúdo, com operações experimentais já em andamento, integrando propriedade intelectual, streaming ao vivo e vídeos curtos em uma mesma experiência para o usuário. O movimento busca diversificar a monetização em um momento em que a receita com assinaturas e publicidade perde fôlego. No último ano, a iQiyi registrou retração de 13% na receita de membros, 8% na de publicidade e um recuo de 60% no lucro líquido, segundo dados financeiros da própria empresa. Como parte da estratégia, o aplicativo iQiyi Express foi rebatizado como iQiyi Micro-Drama.
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