Novos dados divulgados nesta terça-feira, 3, pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), mostram que os investimentos chineses no Brasil em 2023 tiveram um aumento de 33% em relação ao ano anterior, somando US$ 1,73 bilhão. O investimento retoma o crescimento do valor dos aportes após queda de 78% entre 2021 e 2022, porém, é o segundo menor desde 2009.
O relatório “Investimentos Chineses no Brasil 2023” mostra que os setores de eletricidade e veículos automotores permaneceram como os principais focos dos chineses no país. Eletricidade liderou a atração de investimentos chineses em 2023, com participação de 39% em termos de valor e de 66% pelo critério de número de projetos. “Os maiores valores aportados na área foram registrados entre 2015 e 2017, fase em que houve grandes investimentos de gigantes como State Grid, que atuou na construção do linhão de transmissão da usina de Belo Monte, e da China Three Gorges, que adquiriu uma série de hidrelétricas nesse período”, diz o relatório.
O segmento automotivo ficou em segundo lugar pelo segundo ano consecutivo. “A natureza dos projetos também mudou em anos recentes, passando a priorizar a fabricação de veículos eletrificados. O setor automotivo respondeu por 33% do valor aportado – um ganho de participação de 5 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Desde 2021, todos os projetos chineses no setor automotivo no Brasil foram direcionados a veículos 100% elétricos ou híbridos,” aponta o relatório.
O Brasil permanece como o principal destino dos investimentos chineses na América Latina e está entre as 10 economias que mais receberam investimentos chineses em 2023. No mundo, o país ficou 4º lugar entre os que mais recebem investimentos entre 2017 e 2023, atrás apenas de EUA, Austrália e Reino Unido. No entanto, entre 2022 e 2023, os investimentos chineses caíram 36% nos Estados Unidos, 57% na Austrália e 4,2% na União Europeia e Reino Unido, mas aumentaram 37% nos países da Iniciativa Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative).
Segundo Túlio Cariello, Diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC e responsável pelo relatório, as tensões entre China e os países que ocupam as primeiras posições no destino dos investimentos, poderiam beneficiar o Brasil. “A China quer continuar o investimento nos EUA e Europa, mas o que trava o sucesso desses investimentos é a relação conflituosa que estamos vendo. Por conta desse cenário, o Brasil poderia atrair investimentos”, diz. Além disso, o Brasil tem projetos ligados à sustentabilidade, que são de interesse chinês.
Confira os principais dados compilados pela pesquisa do CEBC sobre os investimentos chineses no Brasil em 2023:
• Em 2023, o número de projetos chineses confirmados no país chegou a 29 – soma 9% inferior ao total de 2022. Apesar da queda, esse é o terceiro maior número registrado na série histórica iniciada em 2007.
• A efetivação do valor dos investimentos chineses no Brasil – ou seja, o percentual de projetos anunciados que de fato foram colocados em prática – subiu de 27% para 88% entre 2022 e 2023.
• Desde 2017, o número de projetos de investimentos chineses no Brasil tem mantido níveis relativamente altos, variando entre 24 e 32 por ano – exceto em 2020, quando foram registrados apenas 8 empreendimentos por conta do ápice da pandemia de Covid-19. Por outro lado, o valor investido anualmente tem sido menor, com média de US$ 2,71 bilhões entre 2020 e 2023 – cifra 2,4 vezes inferior à média anual de US$ 6,53 bilhões verificada entre 2016 e 2019.
• O fator cambial também levou à queda recente dos valores financeiros dos investimentos chineses no Brasil. Em 2010, quando os aportes chegaram ao recorde de US$ 13 bilhões, o dólar fechou o ano com média de R$ 1,76. Entre 2020 e 2023, a moeda brasileira teve considerável depreciação, com o valor médio do dólar atingindo R$ 5,18.
• O aumento dos investimentos chineses no Brasil em 2023 ocorreu apesar da queda de 17% nos investimentos estrangeiros de forma geral no país.
• Em 2023, de todos os projetos chineses no Brasil, 72% foram direcionados a energias verdes e setores relacionados – 16 pontos percentuais a mais do que em 2022 e a maior participação registrada desde o início da série histórica em 2007.
• Os projetos chineses no Brasil em 2023 foram direcionados sobretudo à região Sudeste, que absorveu 68% dos empreendimentos, seguida pelo Nordeste (16%), pelo Centro- -Oeste (13%) e pelo Sul (3%).
• São Paulo atraiu 39% dos projetos chineses em 2023, seguido por Minas Gerais, com 29%, e por Goiás, com 10%. Bahia e Ceará absorveram 6% dos empreendimentos individualmente, enquanto Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraíba tiveram, cada um, fatia de 3%.
• A maior parte dos investimentos chineses ingressou no Brasil em 2023 por meio de iniciativas greenfield, com o estabelecimento de novos negócios ou novas rodadas de investimentos em projetos iniciados anteriormente. Essa modalidade representou 83% do número de empreendimentos e 90% do valor aportado.
• O Brasil foi o nono país que mais recebeu capital produtivo chinês em 2023, mantendo a mesma posição do ano anterior. Em anos recentes, países em desenvolvimento têm atraído a maior parte do valor investido pela China no mundo, chegando a representar 9 dos 10 principais destinos dos aportes do país asiático em 2023.
• Na América Latina e no Brasil, os investimentos chineses têm sido menos volumosos nos últimos anos, mas vêm avançando nas chamadas “novas infraestruturas”, que incluem iniciativas em áreas que estão no centro dos planos de desenvolvimento de Pequim, como energias renováveis, mobilidade elétrica, Tecnologia da Informação, infraestrutura urbana e manufaturas de alto padrão.
• A agenda do powershoring, estratégia corporativa voltada à descarbonização para a produção de bens intensivos em energia para exportação, apresenta uma janela de oportunidade para a atração de novos investimentos chineses no Brasil na indústria e em áreas ligadas ao processo de transição energética, considerando as diversas vantagens comparativas do país, como sua matriz energética limpa, a vasta disponibilidade de água doce, suas reservas de minerais críticos e a distância dos grandes temas geopolíticos contemporâneos.
• Em linha com o aumento dos investimentos chineses no Brasil, números oficiais da China mostram que os aportes não-financeiros do país asiático no mundo aumentaram 11,4% em 2023. Alternativamente, UNCTAD e OCDE apontam quedas de, respectivamente, 9,4% e 12% nos investimentos chineses no exterior.
• Em termos de estoque, os investimentos chineses no Brasil entre 2007 e 2023 somaram US$ 73,3 bilhões, resultado de 264 projetos confirmados. O segmento de eletricidade absorveu 45% do valor total, seguido pela área de extração de petróleo, com 30%. Se considerado o número de projetos – e não seu valor financeiro –, o segmento de eletricidade também lidera, com 39% dos empreendimentos, mas a indústria manufatureira vem logo na sequência, com participação de 23%.
• O Sudeste atraiu 54% do número de projetos chineses no Brasil entre 2007 e 2023, seguido pelas regiões Nordeste (16%), Centro-Oeste (13%), Sul (9%) e Norte (7%). Na análise por unidade federativa, São Paulo segue na liderança, com participação de 36,2%.