O presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil visitará a China, de 26 a 31 de março, acompanhado de uma delegação de mais de 200 empresários. É esperado que a cooperação com a China seja fortalecida em várias áreas, tais como economia verde, economia digital, alta tecnologia e Mercosul.
A grande questão e preocupação da comunidade internacional é se o Brasil, como o maior país em desenvolvimento dos hemisférios oriental e ocidental, assinará o acordo da “Iniciativa do Cinturão e Rota” (Belt and Road Initiative, BRI, na sigla em inglês) com a China, o que levará a um novo “boom político e econômico” entre os dois países.
Este ano marca o 10º aniversário da BRI, e 21 países latino-americanos já assinaram acordos de cooperação BRI com a China.
Embora a China tenha sido o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, e de acordo com estatísticas aduaneiras chinesas, o comércio bilateral entre o Brasil e a China será de US$ 171,49 bilhões em 2022, dos quais as exportações chinesas serão de US$ 61,97 bilhões.
O ex-presidente Jair Bolsonaro adotou uma política pró-ocidental e distante da China, o que levou a uma situação de “economia quente e política fria” entre o Brasil e a China.
Entretanto, devido à política pró-ocidental e distante da China do último presidente, o Brasil e a China haviam estado anteriormente em uma situação de “economia quente e política fria”, e o Brasil não havia assinado um acordo de cooperação com a China no acordo da “Iniciativa do Cinturão e Rota”, como fizeram a Argentina, o Chile e outros grandes países latino-americanos.
Acredita-se que a assinatura do acordo da “Iniciativa do Cinturão e Rota” com a China ajudará a impulsionar os setores econômico, tecnológico e social do Brasil, reforçando ainda mais a cooperação com a China em áreas como nova infraestrutura, nova energia, e novos mercados.
A viagem de Lula à China terá uma delegação de 27 deputados, 12 senadores, governadores estaduais e ministros, assim como mais de 200 empresários de mais de 140 indústrias.
A delegação brasileira incluirá representantes empresariais de uma ampla gama de setores, incluindo infraestrutura, bancos, agronegócios, alimentos, vestuário e calçados, telecomunicações e inovação digital.
Desenvolvimento da economia digital
Em primeiro lugar, a cooperação na nova infraestrutura será reforçada. Embora o Brasil tenha uma população de 215 milhões de habitantes, uma taxa de penetração da Internet de 76% e uma taxa de penetração dos smartphones de 68%, a “nova infraestrutura” do país, representada pela tecnologia 5G, inteligência artificial, internet industrial e internet das coisas, ainda não é capaz de atender às necessidades de desenvolvimento econômico e social.
Em resposta, o governo brasileiro desenvolveu uma estratégia e um plano para o desenvolvimento da economia digital, esperando torná-la um novo ponto de crescimento econômico através de tecnologias inovadoras como redes 5G, centros de dados e inteligência artificial.
Embora a cúpula do G7, liderada pelos Estados Unidos, tenha emitido um comunicado conjunto em 2021 para estabelecer a parceria Build Back Better World, que planeja investir mais de US$ 40 trilhões para atender às necessidades de infraestrutura dos países em desenvolvimento, o governo não conseguiu atender a essas necessidades. Entretanto, desde seu início, o plano só tem sido ouvido.
Ao mesmo tempo, a economia digital da China vem crescendo nos últimos anos, com a indústria continuando a crescer em ritmo acelerado e ocupando o segundo lugar no mundo há vários anos.
Portanto, se o Brasil e a China fortalecessem sua cooperação no novo setor de infraestrutura e assinassem um acordo de cooperação para a construção da Rota da Seda Digital, isso ajudaria o Brasil a aprofundar seus esforços no novo setor de infraestrutura e impulsionaria o desenvolvimento da economia digital.
Novas energias
Em relação à estrutura de geração de energia do Brasil, a hidroeletricidade responde por mais de 60%. A situação atual de dependência da geração de energia hidrelétrica torna o fornecimento de eletricidade do Brasil desigualmente distribuído e vulnerável a condições climáticas extremas. Além da energia hidrelétrica, o Brasil é rico em recursos de energia solar e eólica.
O Brasil tem uma intensidade luminosa média de 4,5 a 6,3 kWh/m2 por dia e um potencial de energia solar de 114 GW.
O Brasil é também um dos países mais ricos em termos de energia eólica, com um potencial de 143 GW. Por esta razão, o governo brasileiro está encorajando o desenvolvimento da geração de energia não-hidro renovável e estabeleceu uma meta de aumentar a participação do país na geração de energia não-hidro renovável para 28% a 33% até 2030.
A China alcançou um salto no desenvolvimento da energia renovável representada pela geração de energia hidrelétrica, eólica e fotovoltaica.
Nos últimos 10 anos, a capacidade total instalada de geração de energia renovável da China atingiu 1,1 bilhão de quilowatts, com a capacidade instalada de energia hidrelétrica, eólica, fotovoltaica e de geração de energia de biomassa em primeiro lugar no mundo.
Entre eles, a capacidade instalada combinada de energia eólica e fotovoltaica é de 670 milhões de quilowatts, o que é quase 90 vezes maior do que em 2012.
Além disso, com a rápida iteração da geração de energia fotovoltaica da China e outras tecnologias, ela tem repetidamente estabelecido novos recordes mundiais de eficiência na conversão de baterias.
E as baixas velocidades de vento, resistência a tufão, torres ultra altas e tecnologias de energia eólica de ultra alta altitude estão entre as melhores do mundo.
Portanto, será muito benéfico se o Brasil puder fortalecer ainda mais a cooperação com a China no novo setor energético, utilizando e alavancando as novas tecnologias de geração de energia da China e o conhecimento em hidrogênio verde, armazenamento de energia e novas fontes de energia, como energia eólica offshore e geração de energia fotovoltaica distribuída, utilizando novos equipamentos de energia relevantes produzidos na China, além de atrair mais investimentos das novas empresas de energia chinesas.
Acordo do BRI e a questão ecológica
O acordo BRI, com seu tema de baixo carbono e ecologicamente correto, deve se tornar um novo destaque para a futura cooperação prática entre a China e o Brasil.
Isto porque a urgência da ação global continua a aumentar à medida que os efeitos adversos da mudança climática global se tornam cada vez mais evidentes.
Em particular, a floresta amazônica no Brasil, considerada o “pulmão da terra”, atingiu um ponto irreversível de mudança de vida ou de morte.
Se o desmatamento não for interrompido imediatamente, a maior floresta tropical do mundo poderá desaparecer, provocando mudanças dramáticas no clima global.
A questão de como salvar a floresta amazônica brasileira e proteger a segurança climática global tornou-se importante para todos os países.
Como a floresta amazônica é a maior floresta tropical do mundo, ela desempenha um papel fundamental na acumulação e armazenamento de carbono na atmosfera.
Espera-se que a China e o Brasil reforcem sua cooperação sobre como proteger a floresta amazônica, por exemplo, desenvolvendo conjuntamente vários satélites sino-brasileiros de recursos terrestres para monitorar a floresta amazônica em tempo real, e pesquisando e desenvolvendo conjuntamente plantas de alto valor econômico e agrícola. Em quarto lugar, devemos buscar a “Floresta Comum do Sul”.
Mercosul
O Mercosul é uma importante organização de cooperação econômica regional na América Latina e é considerado o quinto maior grupo econômico do mundo.
A organização é formada por quatro países membros – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – e outros países sul-americanos, incluindo Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Suriname e Guiana, são países associados ao Mercosul.
O Mercosul havia chegado a um acordo com a UE em junho de 2019, mas o acordo ainda está sob revisão legal devido às preocupações dos países da UE tanto com questões ambientais no Brasil quanto com a concorrência insalubre que resultaria da entrada de produtos de países sul-americanos, especialmente produtos agrícolas, nos países da UE.
O Mercosul está diante do fato de que o tratado com a UE tem sido “escondido”, e com o rápido desenvolvimento da economia chinesa, os países sul-americanos estão sentindo o crescente encanto e atração do mercado chinês. Para abrir ainda mais as portas do mercado chinês, é necessário desenvolver uma cooperação mais profunda com a China.
Se durante sua visita à China, o Presidente Lula do Brasil puder facilitar e promover o progresso no acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China, ou mesmo chegar a um acordo, ele não só trará o enorme mercado chinês de 1,4 bilhão de pessoas aos países sul-americanos, incluindo o Brasil, mas também ajudará a aumentar ainda mais a influência de Lula e do Brasil em todo o continente sul-americano.
Vale notar que após tomar posse este ano, o Presidente Lula visitou os Estados Unidos em 10 de fevereiro. Embora ele tenha tido uma boa conversa com o Presidente americano Joe Biden, a visita a Washington não teve resultados substantivos e ele só ficou em Washington por um dia antes de voltar para casa apressadamente, o que foi classificado pela opinião pública internacional como superficial.
Cooperação de ganhos múltiplos
Portanto, se Lula não quiser repetir os mesmos erros e quiser cooperar com a China em todas as frentes e aumentar ainda mais a capacidade do Brasil de participar em assuntos regionais e até mesmo internacionais, assinar o acordo de cooperação BRI com a China e aderir à iniciativa seria uma boa ideia.
O Brasil não só poderá abrir o mercado chinês de 1,4 bilhão de pessoas, mas como a maior economia da América do Sul, a cooperação entre a China e os países sul-americanos também será mais bem promovida, o que levará a uma situação de múltiplos ganhos.
É claro que a visita do Presidente brasileiro Lula à China, com ou sem a assinatura do acordo de cooperação BRI com a China, não impedirá que a China e o Brasil acelerem sua cooperação e embarquem em uma nova situação de “prosperidade política e econômica”.
Para os governos, empresas e pessoas de toda a Área da Grande Baía de Cantão-Hong Kong-Macau, vale a pena considerar como aproveitar as oportunidades apresentadas pelo aumento da cooperação entre a China e o Brasil, e de fato todo o Mercosul.
Para Hong Kong em particular, enquanto a China explora as oportunidades nos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e do Oriente Médio, deve também procurar ativamente oportunidades nos países da América do Sul, para que “parentes distantes possam ser como vizinhos próximos”.
Tradução: Mei Zhen Li
Fonte: Takungpao
Imagem principal: Lucio Tavora/Xinhua