A participação das montadoras chinesas no mercado brasileiro de veículos elétricos (EVs) aumentou nos últimos anos, impulsionada pela produção local, incentivos fiscais e mudanças no perfil de consumo. A BYD, por exemplo, inaugurou sua fábrica no país em 2025 após 15 meses de obras. A unidade tem capacidade inicial de 150 mil veículos por ano e planeja produzir localmente mais de 90% dos modelos vendidos no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), no primeiro semestre de 2024, os EVs chineses representaram 91,4% das importações brasileiras, movimentando US$1,2 bilhão. Entre janeiro e maio de 2025, BYD e Great Wall Motors lideraram o ranking nacional de vendas entre os fabricantes de carros de energia nova.
As montadoras chinesas avançam sobre um mercado historicamente dominado por marcas como Fiat, Volkswagen, Hyundai e Chevrolet. No estado de São Paulo, onde o preço da gasolina é cerca de cinco vezes superior ao da eletricidade, a procura por modelos elétricos cresceu. Apesar disso, as opções ainda são limitadas, com as marcas chinesas concentrando a maior fatia da oferta.
Carros elétricos se tornam mais vantajosos no custo total
No Rio de Janeiro, um motorista de aplicativo afirmou economizar cerca de RMB 20 mil por ano ao trocar o carro a combustão por um modelo elétrico chinês, valor que inclui redução de impostos, manutenção e custo por quilômetro rodado. Ele estima uma economia média de R$10.800 por ano ao rodar 25 mil km. Além disso, veículos elétricos têm isenção ou redução de tributos em comparação aos modelos a combustão e exigem menos manutenção.
Segundo a Fenabrave, o Brasil vendeu 183.200 veículos novos em maio de 2025, aumento de 10,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A BYD ficou em 6º lugar no ranking nacional de montadoras, superando a Honda e consolidando 5,55% de participação de mercado. A Chery também entrou no grupo das 10 maiores fabricantes do país.
Mesmo com esse avanço, modelos a combustão de baixo custo seguem entre os mais vendidos, como Fiat Strada, VW Polo e Hyundai HB20. Para disputar esse segmento, montadoras chinesas têm apostado em tecnologia embarcada e relação custo-benefício. Segundo um concessionário da BYD no Rio de Janeiro, os modelos mais vendidos são os compactos Song e Dolphin, com cerca de 50 unidades comercializadas por mês.
Montadoras chinesas crescem no ranking nacional
A BYD assumiu em 2023 a antiga planta da Ford em Camaçari (BA), fechada dois anos antes, e investiu R$5,5 bilhões para construir um complexo industrial com três fábricas: veículos de passeio, baterias e veículos comerciais. Ex-funcionários da Ford foram recontratados. Um deles, agora empregado pela BYD, afirma que a nova linha de produção é mais automatizada e voltada para resultados. A cidade de Camaçari, antes em declínio, voltou a crescer com a instalação da nova unidade.

Outras montadoras chinesas seguem o mesmo caminho. A Great Wall Motors assumiu a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) e deve iniciar operações em 2025, com investimento previsto de RMB 12,7 bilhões. A GAC planeja aplicar US$1,3 bilhão até o fim de 2026. A Geely anunciou joint venture com a Renault, e a Changan estuda abrir filial no Brasil. A SAIC-GM-Wuling já exporta veículos e testa modelos de distribuição.
Até o final de 2024, o Brasil contava com mais de 150 mil veículos elétricos em circulação. Para atender à demanda, a infraestrutura de carregamento também avançou, em fevereiro de 2025, o país tinha cerca de 15 mil pontos públicos de carregamento, aumento de 22,16% em um ano. A maior parte se concentra no litoral sudeste; o norte e o interior seguem com menor cobertura.
Incentivos fiscais e novas tarifas aceleram investimento
Desde o fim de 2023, o governo federal adotou uma nova política industrial para estimular a produção local. A isenção de imposto para EVs foi retirada e substituída por tarifas crescentes, que devem chegar a 35% em 2026. Em julho de 2025, a tarifa para veículos 100% elétricos chegou a 25%, e para híbridos, a 30%. A medida acompanha o lançamento do “Plano Nacional de Mobilidade Elétrica”, que prevê que 30% das vendas de veículos em 2030 sejam de EVs.
O “Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação”, lançado em 2024, destinou R$ 19,3 bilhões em crédito e incentivos fiscais para estimular o setor. A proposta inclui a instalação de centros de P&D, treinamento de mão de obra local e integração da cadeia produtiva.
Executivos da BYD afirmam que a instalação da fábrica é apenas o início. A empresa pretende produzir baterias e outros componentes no país e capacitar profissionais brasileiros para atuar em manufatura inteligente. A estratégia também busca transformar a percepção sobre os veículos chineses, associando-os a tecnologia de ponta e inovação, e não apenas a baixo custo.
Fonte: yicai.com