A agricultura enfrenta pressões crescentes devido a mudanças climáticas extremas, conflitos geopolíticos e volatilidade do mercado global. Em 13 de outubro, na Conferência Mundial de Inovação em Ciência e Tecnologia Agrícola, realizada em Pequim, quase 800 cientistas, empreendedores e representantes de mais de 90 países discutiram estratégias para tornar o fornecimento de alimentos mais seguro, estável e resiliente.
Martien van Nieuwkoop, Diretor de Desenvolvimento Agrícola da Fundação Gates, destacou que a China transformou seu setor agrícola em pouco mais de 40 anos. “A China utiliza menos de 10% das terras aráveis do mundo para alimentar quase 20% da população global. Essa transformação resultou em inovação, investimento e políticas públicas”, afirmou. Segundo ele, a experiência chinesa oferece insights para países que buscam segurança alimentar e prosperidade compartilhada.
Inovações tecnológicas em destaque
No Quênia, o milho híbrido resistente à seca apresenta resultados promissores. No arroz, a apomixia sintética, conhecida como arroz híbrido autorreplicante, permite que sementes sejam reaproveitadas por gerações, mantendo altos rendimentos. Van Nieuwkoop informou que a Fundação Gates desenvolve ensaios em parceria com a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas (CAAS), o CGIAR e o Centro de Arroz da África Ocidental. Resultados definitivos devem surgir nos próximos anos.
Em novembro, a COP30, em Belém (Brasil), apresentará uma “Vitrine de Inovação” com tecnologias como uma nova variedade de arroz desenvolvida pela CAAS e instituições chinesas. O plantio desta variedade pode reduzir em 50% o consumo de água para irrigação, em 30% o uso de fertilizantes químicos e pesticidas e em mais de 90% as emissões de metano.
Na Nigéria, agricultores da Fazenda Wala colhem resultados do programa Green Super Rice, aplicado em parceria China-África.
Cooperação China-África e cocriação tecnológica
Segundo a Dra. Sandra Milach, cientista-chefe do CGIAR, a China e a África compartilham a base de pequenos agricultores. Tecnologias adaptadas a essa realidade, como pequenas máquinas e drones de pulverização, têm alto potencial. Apesar de possuir a maior área de terra arável, a África apresenta produtividade agrícola baixa e importa anualmente US$6 bilhões em arroz e US$5 bilhões em trigo e milho. A cooperação tecnológica poderia dobrar a produtividade, aumentar a autossuficiência alimentar e reduzir a necessidade de expansão de terras.
Van Nieuwkoop ressaltou que a chave é a “cocriação”: adaptar soluções chinesas às condições africanas, em vez de simplesmente replicá-las. O exemplo do Super Arroz Verde demonstra a importância da pesquisa local, do manejo adequado de fertilizantes e do fortalecimento da cadeia de suprimentos.
Agricultura e mudanças climáticas
A Revolução Verde, entre 1940 e 1970, aumentou a produção agrícola global por meio de variedades de alto rendimento, irrigação expandida e fertilizantes químicos. Hoje, o desafio são as mudanças climáticas. O relatório anual da Organização Meteorológica Mundial projeta 2024 como o ano mais quente desde a era pré-industrial, com temperaturas globais quase 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Na África Ocidental, o projeto “Vales Inteligentes Resilientes ao Clima” da AfricaRice reduziu custos de irrigação de US$1.500 para US$500 por hectare, beneficiando cerca de 320 a 400 pequenos agricultores por vale de 200 hectares. Van Nieuwkoop acrescentou que, embora a agricultura seja responsável por um terço das emissões de gases de efeito estufa, apenas US$24 bilhões dos US$600 bilhões anuais de financiamento climático global vão para o setor, uma lacuna significativa.
“A inovação é essencial para aumentar a produtividade, elevar a renda e reduzir a pobreza, mesmo diante das mudanças climáticas”, concluiu Van Nieuwkoop.
Fonte: The Paper
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