Na semana passada, o governo dos Estados Unidos definiu alíquotas de “tarifas recíprocas” sobre vários países e regiões. Setores americanos adotam medidas administrativas que podem transformar o comércio internacional, com impactos mais profundos do que o previsto. Apesar de medidas de pressão poderem gerar ganhos temporários, elas comprometem a credibilidade dos EUA.
Em 31 de julho, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva que elevou tarifas sobre produtos importados de cerca de 70 parceiros comerciais. A Casa Branca informou que a maioria das alíquotas variará entre 10% e 40%, e entrará em vigor sete dias após a publicação da ordem.
Neste ano, o governo americano anunciou as “tarifas recíprocas”, destacando unilateralmente que os EUA enfrentam desvantagens comerciais. Essa postura colocou em risco o desenvolvimento econômico global ao aplicar pressão intensa. As tarifas afetaram o comércio, os investimentos e o sistema financeiro, prejudicando a recuperação econômica mundial. Recentemente, os EUA afirmaram ter fechado acordos comerciais com várias economias, indicando que a pressão surtiu efeito. No entanto, parte crescente da população americana reconhece os prejuízos das tarifas para seus próprios interesses. Os países que aceitaram as exigências dos EUA não o fizeram voluntariamente e buscam alternativas para minimizar os impactos.
O objetivo das tarifas é reduzir o déficit comercial, proteger indústrias locais e incentivar a volta da manufatura aos EUA. Contudo, esses resultados dificilmente se concretizarão. As tarifas aumentam o custo dos produtos importados, mas não resolvem problemas estruturais da indústria, como a falta de mão de obra e os altos custos de infraestrutura. A expectativa de retorno da manufatura ao país fica abaixo do esperado, enquanto a reorganização das cadeias produtivas eleva os custos para empresas locais. Além disso, o aumento das tarifas é repassado aos consumidores, reduzindo o poder de compra da população americana, contrariamente ao argumento oficial de proteção ao bem-estar.
A imposição das tarifas viola o princípio da não discriminação no sistema multilateral de comércio e pode causar retração no comércio global. Além de elevar custos nas transações internacionais, as tarifas forçam empresas a reestruturar cadeias de suprimento, priorizando a segurança regional sobre a eficiência. Essa reorganização reduz a eficiência na alocação de recursos e gera pressões inflacionárias globais, incluindo nos próprios EUA.
A manufatura moderna depende de uma divisão global do trabalho, com fluxo transfronteiriço de bens intermediários. As tarifas sobre peças e produtos semielaborados elevam os custos de produção local, afetando setores como automotivo e eletrônico, integrados às cadeias globais de valor. O aumento dos custos prejudica a competitividade internacional e pode reduzir investimentos e deslocar capacidade produtiva. Mesmo com ajustes futuros nas políticas tarifárias, as cadeias redundantes criadas para evitar riscos políticos continuarão a elevar os custos operacionais.
Ao agir unilateralmente e enfraquecer o mecanismo de resolução de disputas da Organização Mundial do Comércio (OMC), os EUA alteram fluxos comerciais e remodelam o sistema de regras internacionais. À medida que países ampliam o uso de moedas locais em acordos e fortalecem cadeias produtivas regionais, o sistema centrado no dólar e no mercado americano enfrenta desafios. Isso pode acelerar a formação de uma ordem comercial multipolar, enfraquecendo a base da hegemonia americana.
A Lei Smoot-Hawley de Tarifas, promulgada em 1930, provocou retração do comércio global e agravou a Grande Depressão. Quase um século depois, a guerra tarifária dos EUA traz riscos semelhantes. No fim de abril, a OMC estimou queda de 0,2% no volume do comércio global de bens em 2025, quase três pontos percentuais abaixo da projeção com tarifas baixas. A organização advertiu que, se o cenário piorar, o comércio global poderá se contrair ainda mais.
Hoje, o “Sul Global” reage com mais autonomia. Países buscam reconstruir regras e abrir novas rotas comerciais. Montadoras europeias voltam-se para mercados asiáticos, fábricas no Sudeste Asiático ajustam cadeias produtivas e países latino-americanos estreitam laços com o BRICS. Esses movimentos indicam que acordos obtidos por coerção tendem a fracassar, e as nações pressionadas resistem ao unilateralismo por meio de ações concretas.
Fonte: proapi.jingjiribao.cn