Colunistas

Por que jovens chineses estão pagando caro por personagens “feio-fofos”

Personagens feio-fofos
Fonte da imagem: Sun Weitong/ Xinhua

Nos últimos anos, personagens com aparência “feio-fofa” ganharam espaço entre os jovens chineses. O caso mais recente é o do IP LABUBU, que viralizou nas redes e passou a ser comparado a personagens como o Banguela, de Como Treinar o Seu Dragão, Nezha e Stitch. Apesar das diferenças, todos compartilham traços que rompem com o ideal tradicional de beleza.

Esse padrão visual exagera imperfeições, olhos assimétricos, dentes pontiagudos, formas desproporcionais, mas atrai por oferecer uma alternativa à estética dominante. Para parte da juventude, essa é uma forma de se afastar da simetria artificial e dos filtros que dominam o ambiente digital.

Reação à saturação estética

Em junho de 2025, um boneco LABUBU na cor menta, originalmente vendido por algumas centenas de yuans, foi leiloado por 1,08 milhão de RMB, aproximadamente US$148 mil. O episódio levou o público a apelidar o item de “Moutai dos jovens”. Outros sinais desse movimento também se espalharam: o “Concurso das Cofrefeices” (sigla para “feios que merecem ser amados”) viralizou, e um grupo no Douban, plataforma social voltada a cultura, crítica e comunidades, reuniu quase 250 mil pessoas que compartilhavam a ideia de que a feiura também deve ser acolhida.

Personagens feio-fofos
Fonte da imagem: Li Ying/ Xinhua

As redes sociais chinesas têm exibido sinais claros de fadiga visual. A repetição de rostos editados e padrões idealizados vem gerando rejeição. Comentários populares no Douban criticam a homogeneidade: “É sempre o mesmo padrão repetido, é entediante demais”.

Nesse contexto, personagens “feio-fofos” aparecem como contraponto. Traços considerados desagradáveis ou estranhos ganham afeto justamente por expressarem autenticidade. O “feio” passa a ser visto como linguagem de verdade, diferença e liberdade visual e simboliza vulnerabilidade como forma de romper com a idealização da imagem.

Cores vibrantes como linguagem emocional

Além dos traços visuais, os “feio-fofos” se destacam por cores vibrantes e contrastantes. Verde-fluorescente, rosa, azul intenso e amarelo dominam embalagens, roupas e objetos decorativos. Essa paleta atua como estratégia visual de alívio, oferece estímulo sensorial e reforça uma espécie de “autoajuda visual” diante do cotidiano cinza das grandes cidades.

O uso consciente dessas cores se espalhou também para vídeos, ambientes e marcas voltadas ao público jovem. Em vez de prometer soluções, essas escolhas visuais oferecem um respiro simbólico.

Fonte: news.china