Uma equipe de pesquisa chinesa alcançou um avanço no transplante de órgãos entre espécies (xenotransplante). Em um estudo publicado em 26 de março na revista científica Nature, os pesquisadores realizaram com sucesso o transplante de um fígado de porco geneticamente modificado em um paciente com morte cerebral, mantendo as funções fisiológicas do órgão. Este é o primeiro caso documentado de sucesso dessa natureza.
A pesquisa foi conduzida pela equipe liderada pelo acadêmico Dou Kefeng, da Academia Chinesa de Ciências, em colaboração com o Hospital Xijing. Os cientistas usaram um porco com seis modificações genéticas para fornecer o fígado transplantado. Durante a cirurgia, o fígado foi implantado em um paciente com morte cerebral, mas ainda com funções corporais básicas ativas. O fígado original do paciente não foi removido, permitindo que o órgão transplantado auxiliasse temporariamente no tratamento de insuficiência hepática grave.
Os resultados observados durante dez dias mostraram que o fígado de porco transplantado manteve suas funções, produzindo bile (células do fígado) normalmente e apresentando bons resultados na circulação sanguínea e nas análises patológicas. Dou Kefeng ressaltou que um dos maiores desafios dos xenotransplantes, a rejeição hiperaguda, não ocorreu. Além disso, não foram detectados sinais de transmissão de retrovírus endógenos do porco para o paciente.
A Nature classificou a pesquisa como um “marco no transplante de órgãos de animais para humanos”. A publicação realizou uma coletiva de imprensa online para destacar o sucesso do primeiro caso mundial de transplante de fígado de porco geneticamente modificado. O estudo foi concluído em março de 2024, e sua publicação confirma o reconhecimento internacional da pesquisa.
Peter Friend, professor de transplantes da Universidade de Oxford, afirmou que a pesquisa é um avanço significativo para o campo de xenotransplantes e elogiou a técnica cirúrgica, destacando a viabilidade clínica da tecnologia.
O protocolo cirúrgico passou por avaliações rigorosas de comitês acadêmicos e de ética, e foi conduzido em conformidade com as regulamentações nacionais. O paciente, que sofreu grave traumatismo craniano, teve a participação de sua família, que concordou com o estudo sem compensação financeira, com o objetivo de contribuir para o avanço da medicina. Após dez dias de observação, o transplante foi interrompido, conforme a vontade da família.
Nos últimos anos, os avanços na edição genética e biotecnologia impulsionaram os xenotransplantes com porcos como doadores de órgãos. A edição genética dos órgãos pode reduzir significativamente os riscos de rejeição imunológica. Já foram realizados transplantes bem-sucedidos de coração e rim de porcos geneticamente modificados em humanos. Essas pesquisas visam resolver a escassez global de órgãos para transplante e ampliar as possibilidades de salvar vidas.
Fonte: ithome.com