Tecnologia

Na corrida pelo sol artificial, China aposta em tecnologia própria e indústria nacional

Sol Artificial China
Fonte da imagem: Huang Bohan/ Xinhua

A China deu novos passos na corrida pela fusão nuclear, conhecida como o “sol artificial”. Nos últimos dois anos, empresas privadas do país têm avançado em projetos que antes estavam restritos a governos e grandes consórcios internacionais.

A Energy Singularity, apoiada por investidores como a montadora NIO e a gigante dos games miHoYo, construiu em 2024 o primeiro reator tokamak supercondutor de alta temperatura do mundo. No ano seguinte, esse reator, chamado Honghuang 70, quebrou o recorde global de campo magnético.

Já a ENN, outro grupo privado, desenvolveu um equipamento que opera com hidrogênio e boro, um tipo de fusão considerada mais limpa e segura. Em 2025, alcançou uma descarga de plasma de um milhão de ampères, marca inédita.

Fusão cresce apesar de restrições dos EUA

O impulso recente também está ligado a restrições impostas pelos Estados Unidos. Em 2025, o governo americano suspendeu a exportação de componentes usados em reatores tradicionais. Empresas chinesas, no entanto, já produzem internamente boa parte das peças necessárias para a fusão, e não dependem da mesma tecnologia usada na fissão nuclear.

Com isso, startups conseguiram manter seus projetos mesmo diante dos bloqueios. Em paralelo, a capacidade industrial chinesa permite fabricar peças complexas com mais rapidez e menor custo.

Corrida de modelos e soluções

Diferente da fissão, a fusão ainda não tem um caminho técnico consolidado. Cada empresa aposta em uma rota diferente, buscando eficiência e viabilidade comercial. Enquanto algumas investem em miniaturização, outras apostam em fusões mais limpas e com menos resíduos.

Esse cenário cria uma espécie de corrida paralela entre modelos, prazos e tecnologias. A promessa é gerar energia limpa, sem depender de combustíveis fósseis, algo que atrai cada vez mais investimentos públicos e privados.

Custo e velocidade viram diferencial

Enquanto projetos internacionais como o ITER acumulam atrasos e custos bilionários, as empresas chinesas têm entregado resultados em prazos mais curtos. O Honghuang 70 custou cerca de US$18 milhões e ficou pronto em dois anos. Já o Xuanlong-50U da ENN custou cerca de US$140 milhões e levou cinco anos até a primeira operação.

China e EUA lideram disputa global

China e Estados Unidos concentram os esforços mais promissores em fusão nuclear privada. A CFS, ligada ao MIT, lidera nos EUA com o projeto SPARC, previsto para operar em 2026. A Helion, outra empresa americana, projeta conexão à rede elétrica até 2028, mas ainda não divulgou resultados experimentais.

Empresas americanas lidam com atrasos logísticos, pois dependem de insumos do Japão e da Europa. Em contrapartida, a cadeia produtiva chinesa já entrega suprimentos internamente, com menor custo e maior velocidade.

Enquanto os EUA mantêm vantagem em pesquisa teórica e captação de investimentos, a China avança com produção industrial e execução técnica. Ambas as potências iniciam esta década praticamente do mesmo ponto de largada.

Fusão nuclear é desafio de engenharia

Apesar de conhecida desde os anos 1950, a teoria por trás dos tokamaks nunca foi o principal obstáculo. O problema está na execução. Mesmo com equações corretas, pequenos erros na bobinagem magnética, variações térmicas ou falhas elétricas podem comprometer todo o sistema.

Até hoje, apenas três projetos, JET (Reino Unido), NIF (EUA) e EAST (China), alcançaram o chamado Q > 1, gerando mais energia do que consomem. Nenhuma empresa privada atingiu essa marca. O que está em jogo agora não é a ciência, mas a capacidade de engenharia de transformar teoria em energia elétrica confiável.

Fonte: 36kr.com