Colunistas Empreendedorismo

Na China, o comércio eletrônico é território disputado

Comércio eletrônico disputado
Fonte da imagem: He Hongfu/ Xinhua

O comércio eletrônico chinês movimentou RMB 15,5 trilhões (aproximadamente US$ 2 trilhões) em 2024, com crescimento anual de 7,2%, segundo a Daxue Consulting. Esse crescimento mostra como a competição acirrada entre as maiores plataformas do país, disputam espaço entre consumidores, marcas e fornecedores. Taobao, Tmall, JD.com e Pinduoduo disputam mais do que vendas. Elas brigam por frequência, recorrência e relevância. Investem em logística, lançam assinaturas, aplicam preços dinâmicos e miram nichos específicos. A estrutura de cada uma acompanha sua estratégia e essa diversidade de modelos, em vez de fragmentar o setor, pressiona o sistema como um todo a se reinventar constantemente.

Foco na experiência e no público jovem é estratégia-chave do Taobao

Voltado ao comércio entre consumidores (C2C), o Taobao opera com uma lógica de plataforma aberta. Seu diferencial não está apenas na variedade de oferta, mas na forma como organiza essa vitrine. A plataforma valoriza a reputação e o atendimento ao consumidor, por meio de iniciativas como a “lista das melhores lojas”. Nos últimos anos, o foco em públicos jovens se intensificou através de parcerias com marcas ligadas ao universo geek, como animes e games, para renovar a linguagem visual e o tipo de produto em destaque. O resultado é um ambiente de compra que mais se assemelha a uma comunidade digital do que a um grande varejista. O registrou um volume bruto de mercadorias (GMV) superior a RMB 5,2 trilhões em 2024.

Tmall reforça presença de marcas oficiais e programa de fidelidade

Enquanto o Taobao constrói relações horizontais com vendedores independentes, o Tmall mira grandes marcas. A plataforma reforça sua identidade como vitrine de produtos oficiais e busca transmitir confiança e qualidade. Sua estratégia para fidelizar clientes passa pela oferta da assinatura VIP88, que acumulava mais de 46 milhões de assinantes em novembro de 2024, garantindo benefícios fixos aos assinantes. Esse programa mira especialmente os jovens adultos, que hoje concentram a maior parte das compras online na China. A assinatura ajuda a transformar o consumo eventual em hábito.

JD.com destaca-se pela logística e programas para vendedores

A JD.com, com receita líquida de RMB 1,1 trilhão em 2024, concentra-se em tecnologia e varejo com forte controle logístico. A empresa opera centros de distribuição, gerencia a entrega e controla o estoque, o que lhe dá um argumento claro em um mercado saturado de promessas: o compromisso com o prazo. Nos últimos meses, a plataforma também passou a atrair vendedores, lançando programas de incentivo que reduzem taxas e oferecem visibilidade em campanhas promocionais. A aposta é clara, mais vendedores trazem mais variedade e ampliam a competitividade.

Pinduoduo cresce com modelo de compras coletivas e preço baixo

Com 695 milhões de usuários ativos em junho de 2024, é especialmente popular nas áreas rurais e cidades menores. Com um modelo baseado em compras em grupo, o Pinduoduo cresce apostando no preço como seu principal diferencial. A plataforma transfere para o consumidor parte da responsabilidade por atrair mais compradores e fechar o volume necessário para descontos maiores. Essa estratégia ganha força fora dos grandes centros urbanos, onde o apelo de marcas premium é menor que a relação custo-benefício. Ao apostar no boca a boca digital, o Pinduoduo vira sinônimo de preço baixo e conquista usuários que antes estavam à margem do e-commerce tradicional.

Concorrência constante redefine o mercado e o comportamento do consumidor

A guerra de preços e a aceleração nas entregas marcaram a primeira fase da expansão do e-commerce na China. Agora, a disputa avança para outras frentes. Plataformas competem pela atenção do consumidor com cupons, cashback e assinaturas que oferecem vantagens exclusivas. Essa nova etapa intensifica a corrida por tempo de permanência nos aplicativos e engajamento recorrente, especialmente em cidades menores ou em regiões do interior da China, com custo de vida mais baixo e ainda em expansão digital, onde o potencial de crescimento segue em alta.

Uma das principais ferramentas para ampliar esse alcance é o live commerce, modelo que integra transmissão ao vivo com vendas em tempo real. A estratégia é combinada a ações em redes sociais chinesas como Douyin (versão local do TikTok) e RedNote (Xiaohongshu), ampliando o impacto das campanhas e aproximando marcas de nichos específicos. Em um mercado altamente competitivo, o marketing se torna tão central quanto o produto.

Essa pressão impõe um novo desafio às plataformas: como crescer de forma sustentável sem abrir mão da relevância? A resposta passa por diversificação de serviços e integração de canais. A tendência aponta para modelos híbridos, com lojas físicas conectadas ao digital, experiências personalizadas baseadas em dados e novos formatos de venda. A disputa entre os gigantes do e-commerce deixou de se concentrar em preço ou logística. Hoje, envolve a capacidade de construir ecossistemas próprios e ocupar territórios, não apenas geográficos, mas também digitais, comportamentais e tecnológicos.