O mercado chinês é conhecido pela competição intensa em praticamente todos os setores. Essa competição vai desde o aço, turismo, plataformas de delivery, carros elétricos, entre outros. Segundo Daniel Lau, Diretor Executivo do IEST Group, o mercado chinês vive uma disputa constante para oferecer o melhor produto, serviço e custo ao consumidor. “Não se trata de uma guerra de preço. Eu diria que seria uma intensa competição que afeta os preços das montadoras chinesas, mas isso é característica do mercado chinês como um todo. Morei na China por oito anos, sendo a primeira vez em 2002 e desde essa época a forte competição é uma característica do mercado em quase todos os setores”, disse.
Segundo Lau, existem mais de 110 fabricantes de veículos elétricos na China, essa quantidade grande de empresas faz com que os preços tenham que ser competitivos. Quem não conseguir acompanhar essa característica do mercado, geralmente acaba fechando as portas ou sendo comprado por outras empresas concorrentes. Ele lembra que esse movimento não é novo “isso não é uma coisa que acontece hoje, já tem acontecido no passado, é que atualmente deram mais notícias sobre isso aqui no Ocidente”, afirma.
Como exemplo, veja o caso da maior montadora chinesa de veículos elétricos, que tem como meta vender 5,5 milhões de carros em 2025. “Dentro dessa meta de 5,5 milhões, a montadora tem um desejo de exportar cerca de um milhão de veículos, ou seja, 4,5 milhões de veículos seriam vendidos dentro da China e cerca de um milhão de veículos seriam exportados para outros países do mundo”, afirma
Segundo o especialista, os órgãos reguladores do mercado acompanham o movimento atual de competição e já orientaram as montadoras a evitarem descontos excessivos.“Os diversos órgãos reguladores estão atentos e já tem conversado no setor e pedido para que as empresas não se lancem a descontos vorazes dos seus veículos, para manter o mercado como um todo mais saudável, mais perene”, disse.
Em 2024, a China vendeu mais de 31 milhões de veículos, de acordo com a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CAAM, em inglês). Desse total, mais de 12 milhões foram elétricos, o equivalente a cerca de um terço das vendas. Em 2025, o cenário já mudou: “os veículos elétricos já possuem mais de 50% de market share mês a mês. Então, ao final de 2025, a gente vai ter uma mudança bastante interessante do mix de produtos”. Lau explicou que o país concentra grande parte da produção mundial. “O que a China vende de veículos elétricos dentro do país, representa cerca de 70% de toda a produção de veículos elétricos do mundo”, afirma.
Grandes empresas também têm investido no Brasil, como a fabricante chinesa GWM, que inaugurou em 15 de agosto, em Iracemápolis, interior de São Paulo, uma fábrica dedicada a veículos de novas energias. Durante a cerimônia de abertura da fábrica da GWM foram anunciados 10 bilhões de reais até 2032. Estima-se que vão ser criados mais de 900 postos de trabalho e no começo dessa fábrica já vão ser montados três modelos de veículos.
Sobre a cadeia de suprimentos, Lau explica que algumas montadoras chinesas são altamente verticalizadas pois produzem internamente componentes importantes, como carroceria, motores e baterias, até partes mais caras e mais nobres do veículo. Segundo ele, isso ajuda a baixar os custos. “Isso, tendo o menor custo, permite a ela oferecer um menor valor de venda do seu veículo no mercado.”
Em relação ao impacto fora da China, Lau avalia que ainda não há uma guerra de preços em mercados como Brasil, Europa ou Sudeste Asiático. “A princípio, não vejo uma guerra de preços em outros mercados, mas tudo é possível. O que existe hoje, 2025, é uma expansão, seja na exportação de veículos prontos ou abertura de fábricas”. No Brasil, por exemplo, a tendência é de mais chegada de marcas: “nos próximos 12 meses, a previsão de 10 marcas chinesas estarão presentes no Brasil”, afirma.
Segundo ele, no futuro pode até surgir uma competição de preços mais forte nesses mercados, mas o foco atual está na consolidação das operações e no aumento da participação internacional.
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