O setor automotivo de luxo enfrenta pressões após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o aumento de tarifas para veículos importados. A nova política estabelece uma taxa de 25% sobre carros estrangeiros, o que levou montadoras como Mercedes-Benz, BMW e Jaguar Land Rover a rever suas estratégias globais.
A Mercedes convocou uma reunião de diretoria para discutir novos cenários. Um dos temas é a possibilidade de fabricar o modelo GLS na China. Hoje, o SUV é produzido nos Estados Unidos e vendido no mercado chinês por valores entre 1,06 milhão e 1,788 milhão de yuans. Em 2024, a marca vendeu 13 mil unidades do modelo no país, liderando o segmento da montadora.
Executivos da Mercedes confirmaram que nunca consideraram fabricar o GLS fora dos Estados Unidos. No entanto, as novas tarifas exigem ajustes para manter margens de lucro. O modelo é um dos mais rentáveis da empresa, com desempenho superior aos veículos de entrada produzidos em maior escala.
A BMW enfrenta situação semelhante. Modelos como X4, X6 e X7, também produzidos nos Estados Unidos e exportados à China, sofrem com tarifas dos EUA e com tributos sobre peças europeias. Apesar do impacto, a montadora ainda não prevê a produção desses veículos na Ásia.
A Jaguar Land Rover, por sua vez, optou por suspender as exportações para os Estados Unidos por 30 dias a partir de abril. A medida busca evitar prejuízos com a nova tarifa, que pode tornar seus veículos inviáveis no mercado americano.
Tarifas alteram cadeias produtivas
O novo pacote tarifário altera significativamente a estrutura global das montadoras. A Mercedes, por exemplo, tem uma fábrica no estado do Alabama que produz os modelos GLE, GLS e Maybach GLS. Embora esses carros sejam montados nos Estados Unidos, muitos de seus componentes continuam sendo importados da Europa, o que aumenta os custos diante das novas regras.
Além disso, outros modelos da marca vendidos nos Estados Unidos são completamente importados. A linha G, com preços acima de treze mil dólares, tem nos Estados Unidos seu principal mercado. Com as novas tarifas, o imposto por veículo pode subir de três mil para mais de trinta mil dólares, o que representa um impacto direto na decisão de compra do consumidor.
Marcas como Porsche, Bentley e Lamborghini, que também não possuem fábricas nos Estados Unidos, estão ainda mais expostas. Em dois mil e vinte e quatro, os Estados Unidos foram responsáveis por um terço das vendas globais dessas montadoras. Sem produção local, todas dependem da importação e devem enfrentar uma perda de competitividade considerável. A Bentley, por exemplo, teve em dois mil e vinte e quatro seu pior resultado financeiro dos últimos cinco anos.
Montadoras ampliam produção local
Para lidar com o novo cenário, as montadoras aceleram planos de nacionalização da produção. Em março, a Mercedes anunciou a nomeação de um novo executivo para liderar a operação na América do Norte. O objetivo é ampliar a capacidade de produção local e evitar prejuízos causados pelas tarifas.
Na China, a empresa avalia não apenas nacionalizar o modelo GLS, mas também aprofundar o desenvolvimento de fornecedores e equipes locais para reduzir custos e tornar sua operação mais independente. Embora o investimento seja alto, executivos afirmam que a estratégia é fundamental para manter participação de mercado e proteger a rentabilidade em longo prazo.
Outras fabricantes seguem o mesmo caminho. A Volkswagen estuda construir fábricas para suas marcas Audi e Porsche nos Estados Unidos. A medida visa evitar os impactos da política tarifária e atender à demanda interna com produção local.
Indústria caminha para regionalização
A combinação entre tarifas elevadas, tensões geopolíticas e pressão por rentabilidade indica uma transição no setor automotivo. O modelo de produção global, em que peças e veículos circulam livremente entre continentes, começa a dar lugar a estruturas regionais mais protegidas.
Para as montadoras de luxo, o desafio é equilibrar volume e margem em um cenário instável. Os Estados Unidos continuam sendo um mercado lucrativo, enquanto a China se mantém como o maior em volume.
Produzir em ambos os países pode ser a única saída viável para evitar a perda de participação e preservar lucros em um setor cada vez mais afetado por políticas comerciais restritivas.
A guerra comercial atinge um dos pilares da indústria mundial. O automóvel, símbolo máximo da integração global, se vê no centro de uma transformação estrutural que pode redesenhar toda a lógica da produção e do comércio internacional nos próximos anos.
Tradução: Mei Zhen Li
Fonte: 36Kr