Com o aumento das tarifas norte-americanas sobre produtos chineses, empresas exportadoras da China estão intensificando sua presença no mercado doméstico, em uma estratégia para aproveitar o potencial da segunda maior economia do mundo e seu vasto contingente consumidor.
Para Zhang Jingli, gerente-geral da Anhui Good Hope Baby Safety Technology Co., Ltd., o mercado interno sempre esteve no radar da companhia. Ele explica que as demandas dos mercados nacional e internacional foram consideradas desde a fase de pesquisa e desenvolvimento dos nossos produtos. Essa visão antecipada permitiu à empresa registrar um crescimento de 25% nas vendas no primeiro trimestre, mesmo diante das oscilações nas exportações.
Medidas de apoio e adaptação estrutural
O governo chinês respondeu rapidamente às tensões comerciais com políticas de apoio aos exportadores, tanto em nível nacional quanto local. Em paralelo, gigantes do e-commerce vêm utilizando o avançado ecossistema digital do país para ajudar empresas impactadas pelas tarifas a redirecionarem seus produtos ao mercado interno.
O Ministério do Comércio da China lidera a articulação com associações setoriais, grandes varejistas e distribuidores para ampliar os canais de venda domésticos. Entre as ações mais recentes, produtos originalmente destinados à exportação estão sendo incluídos em redes de supermercados, lojas físicas e plataformas online, além de integrarem programas de substituição de bens de consumo.
Empresas de comércio eletrônico como JD.com lançaram iniciativas robustas para absorver o excedente produtivo. A companhia criou um fundo de compras de 200 bilhões de yuans (cerca de US$ 27,7 bilhões) para adquirir produtos voltados à exportação. Segundo apuração da agência Xinhua, cerca de 30 mil empresas já procuraram a JD.com em busca de parcerias, sendo que milhares estão em negociações avançadas.
A Tencent, controladora do WeChat, lançou o “Plano de Aceleração de Novas Jornadas de Comércio Exterior”, com dez medidas para apoiar exportadores na entrada e expansão no mercado interno — incluindo isenção de taxas, canais prioritários de abertura de lojas e apoio à geração de tráfego digital. A expectativa é que essas ações impulsionem as vendas em até 100 bilhões de yuans.
Varejo físico e outras plataformas se mobilizam
Além das plataformas digitais, redes varejistas tradicionais também estão aderindo ao esforço de nacionalização da demanda. Estabelecimentos como Freshippo (do grupo Alibaba), Yonghui, CR Vanguard e Lianhua passaram a incluir em suas prateleiras produtos originalmente voltados para exportação.
Plataformas de e-commerce populares como Meituan, Douyin, Kuaishou e Vip.com também anunciaram iniciativas similares, fortalecendo o ecossistema de suporte às empresas de comércio exterior.
Segundo Tu Xinquan, reitor do Instituto Chinês de Estudos da OMC da Universidade de Negócios e Economia Internacionais de Pequim, a movimentação não é apenas uma resposta emergencial às tarifas, mas trata-se de uma transformação estrutural, parte do novo modelo de desenvolvimento da China.
A estratégia de integração entre os mercados interno e externo vem se consolidando. Em 2024, quase 85% dos exportadores chineses já estavam simultaneamente ativos no mercado doméstico, refletindo anos de políticas voltadas à diversificação e resiliência econômica.
Fonte: Xinhua News
Adicionar Comentário