A China deu o primeiro passo na construção de um sistema nacional de padronização para robôs humanoides. Durante a Conferência de Desenvolvedores de Inteligência Corporificada Zhangjiang 2025, o Centro Nacional de Inovação para Robôs Humanoides lançou um plano de reconhecimento mútuo de padrões industriais. A iniciativa conta com a participação de centros de inovação das províncias de Zhejiang, Anhui, Shandong, Guangdong e Hubei.
O plano começou com a publicação de cinco padrões industriais nacionais, voltados a campos de treinamento com integração virtual-real e ao compartilhamento de dados entre robôs físicos e simulações. Na primeira fase, os testes ocorrerão no Campo de Treinamento de Robôs Humanoides Heterogêneos, localizado em Zhangjiang, que funcionará como infraestrutura de referência para outras zonas-piloto no país.
Esse projeto marca o início da estruturação formal de um sistema de padronização para robôs humanoides no país, com coordenação liderada pela região do Delta do Rio Yangtzé.
Região do Delta do Yangtzé concentra 28,3% das empresas do setor
A escolha do Delta do Yangtzé como base do sistema de reconhecimento de padrões se explica pela alta concentração de empresas do setor na região. Em setembro de 2024, 28,3% das companhias chinesas ligadas a robôs humanoides operam na região, cobrindo toda a cadeia de valor, de unidades completas a componentes, algoritmos de inteligência artificial e integração de sistemas. Esse ecossistema integrado favorece a formulação e a validação de padrões nacionais.
Xangai reúne quase metade das empresas de robôs humanoides da China e lidera o desenvolvimento de plataformas de inteligência corporificada. A AgiBot, por exemplo, já fabrica robôs em escala e mobiliza mais de 200 fornecedores em Jiangsu, Zhejiang e Anhui. A cidade também atraiu mais de 200 empresas e 5 mil especialistas para sua base de pesquisa e desenvolvimento.
Zhejiang articula software e hardware, com destaque para Hangzhou (algoritmos) e Ningbo (manufatura). Unitree Robotics e Sunny Optical desenvolveram módulos articulares e sistemas de visão 3D, contribuindo para a consolidação de um polo industrial na província.
Anhui atua em algoritmos e controle inteligente. Hefei, com apoio da iFlytek, avança em inteligência corporificada. Wuhu aproveita a base automotiva para produzir componentes, e Bengbu desenvolve sensores. A integração de subsistemas como “cérebro, cerebelo e corpo” define o foco tecnológico local.
Já Jiangsu investe em redutores, sistemas de servo e sensores. Cidades como Wuxi, Suzhou, Nanjing e Changzhou criaram cadeias produtivas robustas que sustentam a produção industrial em larga escala.
Essa divisão funcional entre os elos da cadeia criou uma estrutura regional coordenada, com Xangai na liderança e apoio progressivo de Jiangsu, Zhejiang e Anhui. O modelo acelera a transição dos robôs humanoides da pesquisa para o mercado e viabiliza o reconhecimento mútuo de padrões em todo o país.
Zhangjiang se consolida como zona-piloto nacional
Zhangjiang abriga mais de 90 empresas ligadas à inteligência corporificada, formando um polo industrial compacto. O “Vale dos Robôs” local reúne atividades que vão da fabricação à IA, integração e componentes. Com essa base, a região criou um centro de reconhecimento de padrões que define diretrizes técnicas, normas de campos de teste, fluxo de dados e segurança.
Até o momento, Zhangjiang publicou 12 padrões coletivos, cobrindo mais de 90% dos principais elos da cadeia de P&D. O modelo adotado combina plataformas física e digital, o que acelera o ciclo de padronização. O campo de testes local, voltado a robôs heterogêneos, realiza mais de 2.000 horas de testes por dia em diferentes marcas, modalidades e cenários.
A região também implementou o conceito de “sandbox de cenários” para testes controlados em setores como educação, saúde, finanças e manufatura. Mais de 20 projetos-piloto estão em operação, conectando a padronização à aplicação prática em escala.
Para sustentar financeiramente o avanço, Pudong criou um fundo de RMB 1 bilhão, com subsídios de até 30% para os primeiros lotes de produtos validados. Além disso, Xangai lançou um subfundo regional focado no Delta do Yangtzé, destinado à expansão da padronização e da produção.
Zhangjiang articula um modelo de replicação baseado em três pilares: aplicação em cenários reais, uso de dados de alta qualidade e apoio financeiro. A metodologia já se expande para outras regiões. Em parceria com Hefei, a cidade criou um campo de treinamento inter-regional com compartilhamento criptografado de dados e testes sincronizados, o que reduziu em 30% o tempo médio de validação.
Cooperação regional acelera transformação industrial
O setor de robôs humanoides no Delta do Yangtzé enfrentava fragmentação e baixa eficiência. A iniciativa de Zhangjiang rompe essas barreiras ao integrar plataformas técnicas e fundos regionais. A estratégia cria uma cadeia coordenada: P&D em Xangai, produção no Delta e aplicação em diferentes regiões da China.
Xangai lidera em algoritmos, geração de dados e definição de padrões. Zhejiang, Anhui e Jiangsu contribuem com componentes e integração. As aplicações se estendem a áreas como educação, reabilitação e manufatura.
O sistema de reconhecimento de padrões fornece base institucional para essa articulação. Plataformas comuns viabilizam o compartilhamento de algoritmos, dados e simulações, aumentando a eficiência de desenvolvimento e facilitando o ingresso de pequenas empresas no setor. Fabricantes também ganham capacidade de integração e oferecem produtos com mais agilidade.
Com o amadurecimento desse sistema, o Delta do Yangtzé se prepara para avançar de uma colaboração regional para uma estratégia nacional. O modelo oferece à China uma base concreta para influenciar a definição de padrões internacionais no setor de robôs humanoides.
Fonte: The Paper
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