A China anunciou, em 3 de novembro, a prorrogação até o fim de 2026 da política unilateral de isenção de vistos para cidadãos de 44 países, incluindo Suécia, França, Alemanha, Brasil e Arábia Saudita. A medida, descrita por analistas chineses como um “pacote diplomático de grande impacto”, ocorre em meio ao aumento das tensões geopolíticas e à desaceleração da globalização.
Mais de 60% dos países beneficiados são europeus, como França, Alemanha, Itália, Hungria e Áustria. A inclusão de países da Europa Central e Oriental reforça a estratégia chinesa de estreitar laços com o continente, enquanto os Estados Unidos tentam consolidar alianças na região Indo-Pacífica.
Em 2024, o investimento da União Europeia na China cresceu 12% em relação ao ano anterior, liderado por Alemanha, França e Holanda. A extensão da isenção de vistos deve reduzir custos e agilizar deslocamentos de empresários e técnicos europeus. O período de 30 dias de permanência foi projetado para coincidir com o ciclo médio de negociações e visitas industriais.
No Oriente Médio, a presença de países como Arábia Saudita, Omã e Kuwait sinaliza o interesse da China em fortalecer a cooperação energética. A medida facilita viagens de executivos e autoridades e apoia a expansão do uso do yuan (RMB) no comércio de petróleo. Em 2024, a participação do RMB nas transações entre China e países do Golfo aumentou de 5% para 18%.
Ferramenta econômica e estratégica
A isenção de vistos funciona como um instrumento econômico em meio à disputa global. Enquanto os Estados Unidos impõem barreiras tecnológicas e restrições comerciais, a China aposta na abertura de fronteiras para atrair profissionais e negócios.
Empresas estrangeiras têm forte presença no mercado chinês: em 2024, 37% do lucro global da BMW veio da China. A nova política facilita o deslocamento de engenheiros e técnicos, acelerando ajustes de produção. A inclusão de Coreia do Sul e Japão também é estratégica, já que seus setores de semicondutores enfrentam restrições do “CHIPS Act” norte-americano.
Na América Latina, países como Brasil, Argentina e Chile são vistos como parceiros-chave na reconfiguração das cadeias globais de valor. O investimento direto chinês na região cresceu 23% em 2024, concentrado em veículos elétricos e infraestrutura 5G. A isenção de vistos facilita intercâmbios técnicos, como o envio de engenheiros brasileiros à China para projetos de mineração inteligente.
Momento político e econômico
O anúncio ocorre em um contexto de instabilidade global: Europa sob crise energética, Estados Unidos em ano eleitoral e cadeias produtivas em transição. A China busca se posicionar como defensora da globalização e sinaliza confiança na recuperação econômica mundial.
O governo espera aumento no consumo interno e no turismo. Em 2024, a receita do turismo receptivo na China cresceu 41%, com 63% dos visitantes oriundos de países com isenção de visto. A medida também responde, de forma indireta, às políticas de “desacoplamento” dos EUA, ao atrair talentos e investimentos.
Abertura como estratégia
Com a extensão da política, a China reafirma sua aposta em uma rede diplomática aberta, em contraste com alianças restritas como o G7 ou o Quadro Econômico Indo-Pacífico. A medida simboliza a transição do país para uma atuação mais ativa nas relações internacionais.
Por trás da lista de 44 países está a tentativa de reposicionar a China como centro de negócios, tecnologia e intercâmbio global. Em um cenário de fragmentação econômica, o país responde ao fechamento de fronteiras com políticas de aproximação.
Enquanto algumas potências reforçam barreiras, a China busca consolidar pontes diplomáticas e econômicas, um movimento que pode redefinir os rumos da globalização.
Lista dos países: França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suíça, Irlanda, Hungria, Áustria, Bélgica, Luxemburgo, Austrália, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Grécia, Chipre, Eslovênia, Eslováquia, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Islândia, Mônaco, Liechtenstein, Andorra, Coreia do Sul, Bulgária, Romênia, Croácia, Montenegro, Macedônia do Norte, Malta, Estônia, Letônia, Japão, Brasil, Argentina, Chile, Peru, Uruguai, Arábia Saudita, Omã, Kuwait e Bahrein.
Fonte: Sohu.com


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