O plano de cooperação entre Nissan e Toyota foi oficialmente encerrado. Em dezembro de 2024, Nissan e Honda anunciaram uma iniciativa para avaliar uma possível fusão, mas divergências sobre o controle da gestão encerraram as negociações em fevereiro de 2025.
A Nissan passa por um processo de reestruturação. Em 14 de maio, segundo a emissora chinesa CCTV, a empresa pretende ampliar o corte de empregos de 9 mil para até 20 mil postos em todo o mundo até o final de 2027, o equivalente a cerca de 15% de sua força de trabalho. O plano também inclui a redução do número de fábricas globais de 17 para 10 unidades.
No plano financeiro, o relatório mais recente da Nissan apontou prejuízo líquido de ¥ 670,9 bilhões em 2024, revertendo o lucro de ¥ 426,6 bilhões registrado em 2023. A empresa planeja encerrar as atividades de sete fábricas, o que representa uma redução de mais de um terço na capacidade produtiva.
As receitas e as vendas vêm apresentando queda nos últimos anos. Na China, as vendas caíram 24% em 2023. Em 2024, a Nissan vendeu 3,35 milhões de veículos em todo o mundo, queda de 3% em relação ao ano anterior. Na China, as vendas somaram 696 mil unidades, menos da metade do volume registrado em 2021. No primeiro trimestre de 2025, a retração no país chegou a 29,5%.
Especialistas apontam que os resultados da Nissan refletem tanto mudanças estruturais no setor quanto decisões estratégicas recentes. A empresa priorizou o mercado norte-americano, que em 2023 respondeu por 42% de suas vendas. Com o aumento dos juros nos Estados Unidos, modelos como Altima e Rogue tiveram retração de 19% nas vendas. A Nissan utilizou incentivos comerciais para manter a competitividade, o que reduziu sua margem de lucro por unidade para cerca de US$ 1.200, um terço da média do setor.
Na transição para veículos elétricos, a Nissan enfrenta desafios de escala e atualização tecnológica. Em 2023, a Tesla vendeu 1,8 milhão de veículos elétricos, enquanto a Nissan registrou 87 mil unidades, abaixo do total de 2022. O modelo Leaf, lançado em 2010, perdeu competitividade diante de modelos mais recentes, com autonomia e desempenho superiores. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento representaram 4,1% da receita em 2024, abaixo dos 6,7% registrados pelo Grupo Volkswagen no mesmo período.
A aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, considerada estratégica, não avançou conforme o previsto. O lançamento da plataforma elétrica unificada, inicialmente programado para 2024, foi adiado para 2027. Enquanto isso, cada empresa segue com planos próprios. A Nissan investiu ¥ 580 bilhões em sua tecnologia e-POWER, enquanto a Toyota destinou ¥ 2 trilhões à eletrificação.
O modelo de produção vertical da Nissan, no qual 90% das peças são fornecidas por empresas associadas ao grupo, tem apresentado limitações de custo e flexibilidade. O preço das baterias, por exemplo, é 20% superior ao de concorrentes que operam com fornecedores chineses como a CATL. A paralisação temporária da fábrica em Sunderland, no Reino Unido, evidenciou a complexidade de equilibrar produção local e otimização global da cadeia de suprimentos.
O plano de reestruturação prevê o fechamento de sete fábricas, com uma redução anual de 1,5 milhão de veículos na capacidade produtiva. A dispensa de 20 mil profissionais técnicos e de engenharia também pode impactar as capacidades internas de desenvolvimento. Estudos de mercado indicam que cortes acima de 10% na força de trabalho afetam, em média, 37% da capacidade de pesquisa e inovação das empresas.
BYD avança e pressiona Nissan
A presença de novas montadoras no mercado internacional, especialmente as chinesas, aumentou a concorrência. Em 2024, a BYD vendeu 4,27 milhões de veículos globalmente, crescimento de 41,26% sobre o ano anterior. As exportações somaram 417 mil unidades, alta de 71,86%. A estratégia da empresa inclui equiparar os preços de modelos elétricos e a combustão, o que aumentou sua participação em mercados como China, Sudeste Asiático e Europa.
No mercado chinês, o modelo Qin PLUS da BYD custa menos de RMB 100.000, enquanto modelos tradicionais da Nissan, como o Sylphy, vêm sendo reposicionados com descontos. Modelos como Han e Tang ganharam espaço no segmento médio-alto, pressionando outras montadoras. No Sudeste Asiático, a BYD liderou as vendas de veículos elétricos na Tailândia no primeiro trimestre de 2025, com 8.800 unidades. No Reino Unido, a marca registrou crescimento de 620% no mesmo período.
A Nissan mantém participação relevante em algumas regiões, mas enfrenta desafios na adaptação da sua linha à eletrificação. Em 2023, a montadora vendeu 623 mil veículos na Europa, alta de 42,5% em relação ao ano anterior. No entanto, a estrutura de vendas ainda baseada em modelos a combustão pode limitar sua competitividade frente às novas ofertas do mercado.
A Nissan iniciou sua trajetória nos veículos elétricos em 2010, com o lançamento do Leaf. A empresa, no entanto, não conseguiu manter a liderança no segmento. Em 2024, os veículos totalmente elétricos representaram menos de 5% das vendas globais da montadora. O modelo Ariya, lançado recentemente, teve desempenho abaixo do esperado no mercado chinês, com média de 19 unidades vendidas por mês.
Enquanto isso, a BYD consolidou sua atuação com uma linha completa de veículos elétricos e híbridos plug-in. Em 2024, a empresa vendeu 1,765 milhão de veículos elétricos e cerca de 2,5 milhões de híbridos. A quinta geração de sua tecnologia híbrida oferece autonomia combinada de até 1.060 km e consumo de 5,3 litros por 100 km no ciclo NEDC, mesmo em condição de bateria descarregada. A empresa também produz internamente as baterias Blade, conhecidas por sua densidade energética e segurança.
Fonte: 36kr.com