A Liga de Futebol das Cidades da Província de Jiangsu, no leste da China, superou 100 milhões de visualizações nas redes sociais e atingiu uma média superior a 10 mil espectadores por partida. O torneio, apelidado por internautas de “Su Chao” (Superliga de Jiangsu), virou fenômeno ao unir futebol amador, identidade local e consumo turístico.
Lançado em maio, o campeonato reúne 13 equipes formadas por jogadores amadores e promove jogos entre as principais cidades da província. Além da popularidade nas plataformas digitais, o torneio tem ampliado o fluxo de visitantes e gerado novas oportunidades econômicas nas regiões-sede.
Futebol impulsiona consumo e turismo
Cidades como Changzhou, Yancheng e Zhenjiang registraram aumento expressivo no turismo e nas vendas de produtos locais. Combos promocionais, como ingresso por 9,9 yuans mais refeição típica, ampliaram o consumo em restaurantes e mercados regionais. Em Yancheng, pacotes turísticos que combinam observação de aves e partidas movimentaram o setor. Em Zhenjiang, o fluxo noturno na área turística de Xijindu triplicou durante os jogos.
Durante o feriado do Festival do Barco-Dragão, o número de turistas cresceu 45% em Taizhou, 27% em Yancheng e 26% em Xuzhou. Segundo a plataforma de turismo inteligente de Jiangsu, o consumo cultural e turístico por visitantes de outras regiões nas seis cidades-sede aumentou 14,63%.
A plataforma Meituan também registrou crescimento nas buscas: 197% para “churrasco de Xuzhou”, 407% para “bares para assistir futebol”, além de aumento na procura por “treinamento infantil de futebol”. O “Su Chao” gerou demanda para serviços de alimentação, lazer e esportes.
Cidades ampliam incentivos regionais
Governos locais criaram estratégias para atrair turistas de cidades vizinhas. Wuxi ofereceu estacionamento gratuito, pêssegos e descontos em táxis para torcedores de Changzhou. Suzhou liberou entrada gratuita em vilarejos históricos como Zhouzhuang e Tongli. Yangzhou deu acesso sem custo a parques estatais nos fins de semana dos jogos e criou promoções em hospedagem, alimentação e eventos culturais.
Para o professor Si Zengchuo, da Universidade Normal de Jiangsu, os ingressos do torneio funcionam como cupons para o turismo local. Ao conectar futebol, consumo e experiências culturais, as cidades aumentam o tempo de permanência dos visitantes e incentivam o gasto em rede.
A competição também virou vitrine para tradições regionais. Zhenjiang passou a vender bebidas de vinagre como lembrança; Yangzhou destacou sua técnica de laca; Suqian apresentou danças folclóricas nos estádios. “Antes, eu achava que Xuzhou era só uma cidade industrial. Descobri uma herança cultural Chu e Han”, afirmou Zhang Chao, visitante de Nanjing.
Participação popular sustenta engajamento
Com ingressos a 10 yuans, transmissão gratuita e processo de entrada simplificado, o campeonato atraiu mais de 190 mil torcedores nas três primeiras rodadas. Os times são compostos por professores, entregadores e programadores, trabalhadores que treinam à noite e atuam durante o dia. Essa proximidade com a rotina das pessoas amplia a identificação do público.

O torneio também gerou interações entre cidades nas redes sociais. Perfis oficiais trocam provocações e “declarações de amor”, reforçando a narrativa de uma disputa bem-humorada. Memes, músicas e rivalidades locais ganharam espaço online, criando um novo tipo de engajamento comunitário.
Identidade regional fortalece a liga
Segundo especialistas, a força do “Su Chao” está no equilíbrio entre identidade local e espírito coletivo. Cada cidade-sede recebe pelo menos um jogo e aproveita a oportunidade para destacar atrativos turísticos e culturais. A competição se tornou palco de uma disputa paralela: quem oferece a melhor fanfarra, a comida mais popular ou a campanha mais criativa nas redes.
Para o professor Li Kongyue, da Universidade Sun Yat-sen, o modelo representa uma “cooperação competitiva”, as cidades compartilham o tráfego digital gerado pela liga e impulsionam seus próprios setores com base na mobilização popular.
O campeonato também contrasta com outras febres turísticas criadas na internet. Diferente de destinos que dependem de visitantes externos, o “Su Chao” surgiu com o apoio dos próprios moradores da província. Esse ecossistema local, segundo analistas, aumentou o poder de atração da liga em nível nacional.
Perspectivas e desafios para o futuro
A competição vai até novembro. Segundo especialistas, a principal questão é manter a relevância do evento após a temporada. A ampliação de experiências derivadas, como bares temáticos, centros comerciais decorados e conteúdo digital, aparece como uma possível solução. O presidente do complexo turístico Nianhuawan, Wu Guoping, também sugere a adoção de tecnologia como reconhecimento facial, bilhete digital integrado e reservas com fila rápida.
Para o professor Zhou Yongbo, da Universidade de Suzhou, o desafio está em integrar os setores de cultura, esporte, turismo e comércio. Ele defende a criação de uma cadeia de consumo sustentável em torno da economia dos eventos esportivos, com produtos oficiais, roteiros turísticos e ações educativas.
“Pequenos torneios regionais podem gerar impacto significativo quando conectam o entusiasmo do público com os recursos das cidades”, afirmou Zhou.
Fonte: news.cn
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