O mercado de veículos elétricos na China começou 2025 com forte aceleração, segundo dados divulgados por entidades do setor automotivo. Impulsionado por novos lançamentos, estratégias agressivas de preços e políticas públicas de incentivo, o segmento de veículos de nova energia, que inclui elétricos puros e híbridos plug-in, alcançou novos patamares no primeiro trimestre do ano e tende a manter a trajetória de crescimento ao longo dos próximos meses.
Entre janeiro e março, foram produzidos 3,182 milhões de veículos elétricos no país, com 3,075 milhões de unidades vendidas, segundo a Associação Chinesa da Indústria Automobilística (CAAM). Os números representam altas de 50,4% e 47,1%, respectivamente, na comparação anual. Os carros elétricos já representam 41,2% de todos os automóveis novos vendidos no mercado chinês. A venda de modelos puramente elétricos cresceu 47,7% e a dos híbridos plug-in avançou 46,1% no mesmo período.
As exportações também registraram avanço expressivo, com 441 mil veículos elétricos enviados ao exterior — uma alta de 43,9% na comparação com o mesmo trimestre de 2024. Os automóveis de passeio responderam por 419 mil dessas unidades, e os comerciais por 23 mil. Chamam atenção os números dos modelos híbridos plug-in, cujas exportações aumentaram 160%. Já os modelos puramente elétricos tiveram crescimento de 16,7%.
O desempenho reforça uma mudança importante no perfil do consumidor chinês. Segundo a Associação do Setor de Varejo Automotivo (CPCA), a produção de carros de passeio elétricos chegou a 2,924 milhões de unidades no trimestre, com vendas ao consumidor de 2,42 milhões — alta de 36,4%. Para Cui Dongshu, secretário-geral da CPCA, os híbridos plug-in passaram a liderar o crescimento do mercado, substituindo os modelos premium de longo alcance como principal força motriz da demanda.
Além do aquecimento natural da demanda, políticas públicas têm ajudado a sustentar o fôlego do setor. Desde janeiro, está em vigor uma nova rodada de incentivos para a substituição de veículos antigos por novos modelos. A diretriz, elaborada por oito ministérios chineses, ampliou o alcance da política e melhorou sua execução. Até o dia 10 de abril, o governo havia recebido mais de 2,23 milhões de pedidos de subsídio, sendo 747 mil referentes ao descarte de veículos antigos e 1,485 milhão relacionados à troca por carros novos.
O vice-ministro do Comércio, Sheng Qiuping, destacou que, apenas em 2024, esse tipo de substituição movimentou mais de 950 bilhões de yuans em vendas de automóveis, e a expectativa é de crescimento em 2025. O governo também prepara novas ações para fomentar o setor, incluindo subsídios à renovação da frota de ônibus urbanos, incentivos ao uso de veículos elétricos em áreas rurais e expansão da infraestrutura de recarga em cidades de menor porte.
Para Wang Qing, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica do Conselho de Estado, a atual política tem potencial para estimular a venda de mais de 2 milhões de carros novos apenas em 2025. Segundo ele, a medida deve ter impacto especialmente nas regiões centrais e ocidentais do país, onde o mercado ainda tem espaço para expansão.
No plano competitivo, o setor passa por reestruturação. As dez maiores montadoras responderam por 84,4% das vendas de veículos elétricos no primeiro trimestre, consolidando ainda mais o mercado. Empresas como BYD, Geely, XPeng e Leapmotor registraram volumes recordes de vendas. Por outro lado, marcas menores, especialmente aquelas que não produzem suas próprias baterias, enfrentam dificuldades crescentes.
O cenário é marcado por margens apertadas. Apesar do crescimento robusto, a rentabilidade das montadoras é pressionada por intensa concorrência. Em contraste, a indústria de baterias de íon-lítio viu seus lucros crescerem 48,5% em 2024, ampliando a pressão por eficiência no setor automotivo.
Na avaliação de Wang Qing, com a participação dos elétricos ultrapassando 50% do mercado doméstico, o ritmo de crescimento deverá se moderar naturalmente. O setor automotivo chinês entra, assim, em uma nova fase de ajuste estrutural. Inicialmente, a guerra de preços deve continuar como principal ferramenta de competição entre fabricantes. Mas, à medida que o mercado amadurece, novas demandas, como personalização, experiência do usuário, integração com comunidades e até elementos de identidade cultural — ganharão espaço, permitindo uma maior diversidade de marcas do que na era dos motores a combustão.
Tradução: Mei Zhen Li
Fonte: Xinhua