Mais de 800 peixes ornamentais originários da África chegaram, em março, ao Aeroporto Internacional de Huanghua, em Changsha, na China. Foi a primeira vez que esse tipo de carga foi importado pelo terminal localizado na província de Hunan. A alfândega orientou o importador na construção de instalações de quarentena e elaborou um plano de entrada específico. O desembaraço ocorreu por meio do sistema de liberação alfandegária 24 horas, o que permitiu conexão direta entre descarregamento, inspeção e retirada.
A operação reflete o avanço das relações econômicas e comerciais entre China e África. Em 2024, o volume de comércio entre as duas partes atingiu US$295,6 bilhões, novo recorde pelo quarto ano seguido. A China mantém-se como o maior parceiro comercial do continente há 16 anos. Essa parceria se fortalece com políticas de tarifa zero e o modelo de integração entre produção, indústria e comércio.
Tarifa zero amplia exportações africanas para o mercado chinês
Desde 2021, a entrada da pimenta seca de Ruanda no mercado chinês transformou o produto em um dos principais itens de exportação do país africano. A empresa ruandesa Fischer Global exporta anualmente entre 200 e 300 toneladas da especiaria para a China, com meta de atingir 1.500 toneladas. Segundo o diretor-geral, Herman Uwizeyimana, a política de tarifa zero reduz custos e aumenta a competitividade dos produtos africanos no mercado chinês.
A partir de 1º de dezembro de 2023, a China passou a aplicar tarifa zero a 100% das categorias tarifárias de produtos oriundos de 33 países africanos menos desenvolvidos com relações diplomáticas com Pequim. Trata-se da primeira grande economia a adotar essa medida.
Além disso, Pequim propôs acordos de parceria econômica com 53 países africanos para ampliar a aplicação da tarifa zero e facilitar exportações. Também promove a presença de expositores africanos em feiras como a China International Import Expo (CIIE) e a Exposição de Cadeia de Suprimentos.
Produtos como abacates do Quênia, abacaxis do Benim, carne de cordeiro de Madagascar, amendoins do Malaui, castanhas de Moçambique e sabonetes pretos de Gana têm ganhado espaço no varejo chinês. Segundo o Ministério do Comércio da China, desde a adoção da política até março de 2025, as importações provenientes dos países africanos menos desenvolvidos somaram US$21,42 bilhões, alta de 15,2% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre de 2025, o país também registrou aumento de 70,4% na importação de café africano e de 56,8% em cacau em grão.
O embaixador da Etiópia na China, Tefera Derbew Yimam, afirmou que a medida facilita o acesso dos produtos africanos ao mercado chinês e contribui para o avanço industrial no continente.
Fábricas chinesas fortalecem cadeia de valor agrícola africana
Na Costa do Marfim, triciclos transportam látex até uma fábrica operada por trabalhadores locais. Lá, a matéria-prima é transformada em blocos padronizados de borracha. A planta, com capacidade anual de 100 mil toneladas, foi inaugurada em outubro de 2024 pelo grupo chinês Mainland Group. É a terceira fábrica do grupo no país, a primeira foi aberta em 2020, em Dabou; a segunda, em 2022, em Duékoué. Outras duas unidades devem entrar em operação nos próximos meses, elevando a capacidade anual para 480 mil toneladas.
Apesar de liderar a produção africana de borracha natural, a Costa do Marfim exportava o produto in natura por falta de capacidade local de processamento. Com o apoio chinês, o país avança na industrialização e na geração de renda para os produtores.
De acordo com dados do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), empresas chinesas investiram RMB 13,38 bilhões no continente africano desde a cúpula de 2024. Pequim também destinou RMB 2,08 bilhões em empréstimos a pequenas e médias empresas locais, beneficiando cerca de 350 negócios em 19 setores e criando aproximadamente 4.500 empregos.
Modelo de integração amplia cooperação industrial China-África
O Livro Azul da Cooperação Econômica e Comercial China-África (2025) aponta uma mudança nos padrões comerciais entre os dois lados. O setor agrícola e alimentício migra da exportação de matérias-primas para produtos processados. A indústria manufatureira passa a priorizar a produção local. Novos setores, como economia digital e serviços tecnológicos, ganham força. O comércio eletrônico transfronteiriço também complementa as trocas tradicionais.
O modelo de integração entre produção, indústria e comércio vem sendo adotado por diversos países africanos. Segundo Humphrey Moshi, diretor do Centro de Estudos Chineses da Universidade de Dar es Salaam, a África caminha para a geração de valor agregado, substituindo a exportação de matérias-primas por bens processados.
O ministro da Agricultura do Senegal, Mabouba Diagne, também apontou a instalação de fábricas locais como fator de transformação do modelo agrícola do continente.
Durante a 4ª Exposição Econômica e Comercial China-África, autoridades divulgaram novos projetos nos setores de agricultura moderna, manufatura avançada e energias renováveis. Segundo Xu Xiangping, presidente da Associação de Promoção da Cooperação Econômica e Comercial China-África de Hunan, esses projetos fortalecem a construção de uma comunidade China-África com desenvolvimento compartilhado.
Fonte: stdaily.com
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