Empreendedorismo

BYD aumenta a pressão sobre rivais com nova rodada de cortes de preços

BYD cortes de preços
Fonte da imagem: Zhang Bowen/ Xinhua

A BYD iniciou uma nova rodada de cortes de preços em 22 modelos das linhas Dynasty e Ocean, com subsídios que chegam a RMB 53 mil. A campanha é limitada e inclui modelos como o Qin PLUS DM-i versão inteligente (RMB 63.800), Seal 06 DM-i (RMB 76.800) e Seagull versão inteligente (RMB 55.800).

A montadora, líder em veículos de nova energia (NEVs) na China, reforçou a ofensiva de preços, acirrando a disputa no setor. O movimento provocou reação imediata no mercado financeiro. Em 26 de maio, ações de empresas do setor automotivo recuaram nas bolsas de Xangai e Hong Kong. A BYD caiu mais de 6% na China. Seres, GWM, Changan, BAIC BluePark, SAIC e GAC registraram perdas superiores a 2%. Em Hong Kong, Leapmotor, BYD e Geely despencaram mais de 8%.

Na mesma data, a Geely também aderiu aos cortes. A empresa anunciou descontos entre RMB 5 mil e RMB 18 mil em modelos como o Star Wishes (de RMB 70 mil para RMB 59.800), L6 (RMB 69.800), Galaxy Starship 7 (RMB 79.800) e E5 (RMB 89.800), ampliando a concorrência direta com a BYD.

A adesão simultânea de BYD e Geely colocou o setor em novo patamar de competição. Leapmotor, IM Motors e SAIC-GM também entraram na disputa. A expectativa é que marcas como Chery e Changan acompanhem o movimento.

Estoques elevados forçam cortes agressivos

O modelo de “preço fixo”, adotado inicialmente por fabricantes estrangeiras na China, se tornou padrão entre montadoras locais. Com estoques elevados, empresas como BYD e Leapmotor usam campanhas promocionais para acelerar as vendas.

Em 25 de maio, a Leapmotor lançou sua campanha para o Festival do Barco-Dragão com o C16 híbrido a RMB 111.800 e o C11 híbrido a RMB 103.800. Com incentivos adicionais como troca ou sucateamento, o consumidor pode adquirir o C01 por RMB 94.800, o C16 por RMB 91.800 e o C11 por RMB 83.800.

A Geely, com mais de 1 milhão de unidades vendidas neste ano, também reduziu preços no segmento abaixo de RMB 100 mil, onde a competição é mais intensa.

Desde o Ano Novo Chinês, a BYD realiza campanhas de descontos. Em março, lançou preços fixos para modelos de entrada das linhas Ocean e Dynasty. O Qin L DM-i caiu para RMB 89.800 e o Song L DM-i para RMB 119.800. Em maio, ampliou os subsídios em modelos inteligentes como Han EV, Han DM-i e Tang DM-i, com benefícios combinados de até RMB 35 mil.

Desta vez, a BYD incluiu mais modelos e adotou cortes mais amplos. A decisão reflete a perda de participação nas vendas de modelos líderes e a redução no volume de unidades comercializadas. A empresa, que já vendeu 500 mil carros por mês, registrou média de pouco mais de 300 mil unidades nos quatro primeiros meses do ano.

O desequilíbrio entre oferta e demanda se agravou. Segundo a Associação de Carros de Passageiros (CPCA), os estoques de veículos leves superaram 3,5 milhões de unidades, recorde para o período. Desse total, 850 mil são NEVs.

O estoque elevado contrasta com a sazonalidade do setor. Entre junho e agosto, o mercado registra baixa nas vendas. A pressão sobre concessionárias aumenta, e campanhas de curto prazo, que duram de uma semana a um mês, tentam liberar espaço antes da adoção de novos padrões de segurança para baterias e do fim dos subsídios para NEVs.

Cortes beneficiam o consumidor, mas fragilizam a indústria

A produção intensiva, sem acompanhamento da demanda, gerou excesso de oferta. Montadoras operam fábricas em capacidade máxima, enquanto o mercado absorve menos veículos. Para as concessionárias, campanhas com preços promocionais ajudam a reduzir estoques e atrair clientes indecisos. O índice médio de estoque já se aproxima de 3, segundo relatos de revendedores.

Apesar de alguns analistas apontarem a guerra de preços como um ajuste temporário, o movimento pode afetar a estrutura de preços do setor. A percepção de que “carros agora devem custar esse valor” pode comprometer a imagem das marcas e afetar a satisfação de consumidores recentes.

A pressão de preços reflete a atual situação econômica. Após incentivos à troca, o consumo de veículos segue tendência deflacionária: maior volume de vendas com queda nos preços, principalmente em modelos de entrada.

Com o avanço dos elétricos e inteligentes, consumidores acessam veículos com mais espaço e recursos por valores menores. Isso obriga o setor a reduzir preços e intensifica a disputa.

No entanto, o modelo de alto volume e baixa margem compromete o desenvolvimento do setor. Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, a margem de lucro da indústria automotiva no primeiro trimestre de 2025 foi de 3,9%, abaixo da média da indústria. Em 2024, a margem foi de 4,3%, mesmo com o volume recorde de mais de 31 milhões de veículos vendidos.

A rentabilidade das montadoras chinesas segue distante de concorrentes internacionais. O lucro total das empresas listadas no país equivale a menos de 40% do que a Toyota gera em um ano. Em um setor de alto investimento, margens reduzidas limitam a capacidade de inovação e tornam a competição exaustiva.

No curto prazo, os cortes estimulam a demanda. No longo prazo, enfraquecem o setor. Para sustentar reduções de preço, toda a cadeia precisa absorver custos, o que pressiona fornecedores e compromete a qualidade da produção. Como alertou Wei Jianjun, CEO da GWM: “Qual produto industrial pode reduzir RMB 100 mil e ainda garantir qualidade? Isso é absolutamente impossível”.

A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma já alertou que a “competição excessiva” prejudica o desenvolvimento do setor e distorce a ordem de mercado. O tema já aparece com frequência em comunicados oficiais.

Fonte: 36kr.com