Os preços globais das commodities alimentares tiveram sua primeira alta em meses, impulsionados pelas disrupções no comércio de grãos e pelos eventos climáticos extremos que têm gerado preocupações com o abastecimento de alimentos em todo o mundo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Índice de Preços de Alimentos teve um aumento de 1,3% em julho em comparação com o mês anterior, sendo impulsionado pelos custos mais elevados do arroz e do óleo vegetal. O Índice de Preços do Óleo Vegetal da FAO teve uma alta de 12,1% em relação a junho, interrompendo uma sequência de sete meses de quedas.
O Índice de Preços de Alimentos da FAO monitora mensalmente as variações nos preços internacionais das commodities alimentares mais comercializadas. Essa foi a primeira alta desde abril, quando os preços do açúcar já haviam elevado levemente o índice pela primeira vez em um ano.
O pesquisador Hu Bingchuan, do Instituto de Desenvolvimento Rural da Academia Chinesa de Ciências Sociais, apontou duas razões principais para o aumento dos preços globais dos alimentos em julho. Segundo ele, o término da Iniciativa de Grãos do Mar Negro, apoiada pela ONU, aumentou o pânico nos mercados globais de alimentos, impulsionando os preços. Além disso, os eventos climáticos extremos que ocorreram em várias partes do mundo afetaram negativamente as expectativas de produção de grãos.
No entanto, Hu observou que o suprimento global de produtos agrícolas ainda é positivo, uma vez que o índice mensal está quase 12% abaixo de julho de 2022. No entanto, ele alertou para os riscos de interrupções nas cadeias de abastecimento causadas por conflitos regionais, o que pode afetar a segurança alimentar de países de baixa renda.
Nesse contexto de aumento dos preços globais de alimentos, diversos países anunciaram recentemente restrições ou proibições de exportação de arroz para garantir o abastecimento em seus mercados internos. Países como Índia, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Rússia estão entre os que adotaram essas medidas.
A Índia, que é uma importante exportadora de arroz no mundo, viu suas exportações de arroz totalizarem cerca de 22 milhões de toneladas em 2022, representando mais de 40% das exportações globais desse grão. A proibição de exportação anunciada em julho afetará cerca de 10 milhões de toneladas de arroz.
BV Krishna Rao, presidente da Associação de Exportadores de Arroz, ressaltou que países africanos, como Benin e Senegal, serão particularmente afetados pelas restrições às exportações de arroz da Índia.
A FAO alertou que o aumento nos preços do arroz pode gerar preocupações significativas com a segurança alimentar para uma grande parcela da população mundial, especialmente para os mais pobres, que destinam uma parte maior de suas rendas para a compra de alimentos. Além disso, as restrições às exportações podem ter consequências adversas na produção, consumo e preços, que podem se estender além do período de implementação, aumentando o risco de inflação doméstica em muitos países.
Hu enfatizou que, para os países em desenvolvimento, especialmente os menos desenvolvidos, que dependem principalmente de importações de alimentos, essas restrições aumentarão o custo das importações de alimentos, dificultando o acesso dos mais pobres aos alimentos e levando a situações de fome e outras crises humanitárias.
Em julho de 2022, Rússia e Ucrânia assinaram, separadamente, com a Turquia e a ONU, a Iniciativa de Grãos do Mar Negro, permitindo que a Ucrânia exportasse seus grãos e outros produtos agrícolas por meio de portos no Mar Negro. O acordo foi renovado três vezes, mas entrou em colapso após a retirada da Rússia no mês passado.
Na tentativa de resolver a situação, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, instou seu homólogo russo, Vladimir Putin, a continuar com o acordo de grãos, afirmando que o seu encerramento a longo prazo “não beneficiará ninguém” e que os países de baixa renda, que necessitam de grãos, serão os mais afetados.
Por sua vez, Putin disse a Erdogan que a extensão do acordo não teria sentido sem a implementação da parte que diz respeito à Rússia e que a Rússia retornará ao acordo “assim que o Ocidente cumprir todas as suas obrigações” estipuladas no acordo.
Durante um debate aberto no Conselho de Segurança da ONU sobre fome e insegurança alimentar global causada por conflitos, o representante permanente da China na ONU, Zhang Jun, afirmou que a Iniciativa de Grãos do Mar Negro e o memorando de entendimento sobre exportações de grãos e fertilizantes da Rússia tiveram um impacto positivo na manutenção da segurança alimentar global. Ele também expressou o desejo de que todas as partes relevantes intensifiquem o diálogo e a consulta para chegar a um acordo e restaurar o acordo o mais rápido possível.
Zhang ressaltou que a insegurança alimentar está intimamente relacionada ao sistema de produção e comércio de alimentos injusto e irracional, bem como ao sistema global de governança como um todo. Ele instou a comunidade internacional a abordar tanto os sintomas quanto as causas profundas, melhorar as regras e regulamentos e tomar medidas abrangentes para alcançar o objetivo de acabar com a fome até 2030, conforme planejado.
Tradução: Mei Zhen Li
Fonte: The Paper
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