Se tem uma lição importante que o coronavírus trouxe para os mercados do mundo todo é a de que a digitalização é essencial para a sobrevivência de muitos negócios. A China, que já tinha um avançado sistema de e-commerce, tem dado lições sobre como vender e até expandir na crise. Para quem quer estar no mercado chinês, ter presença online é obrigatório. Mas ainda há desconhecimento e receio. “Eu sempre falo para as empresas brasileiras para que não tenham medo da China”, disse Renata Thiebaut, sócia e head de Pesquisa e Inteligência de Negócios da Web2Asia e professora da Alibaba Business School.
De acordo com a especialista em comércio eletrônico chinês, as empresas brasileiras ainda enfrentam muitas barreiras e dificuldades para lidar com os chineses, como a língua, a distância e o desconhecimento em relação ao mercado em si. “Temos que aos poucos aprender sobre a China e também considerar o mercado chinês não só pela sua grandiosidade, mas pela curva de experiência que a marca pode ter na China e até expandir para a Ásia”, disse.
Em um webinar organizado pela rede Observa China, que agrega brasileiros de diversos segmentos relacionados ao país asiático, Renata afirmou que o e-commerce será responsável por US$ 1,1 trilhão em vendas no país em 2020, e representará 63,9% do varejo total da China em 2023.
Oportunidades para produtos brasileiros no mercado chinês
O comércio eletrônico da China oferece diversas opções de plataformas para B2C ou B2B, como a Tmall (B2B, da Alibaba), Taobao e Aliexpress (B2C, da Alibaba), Pinduoduo e JD. O custo para ter uma loja nessas plataformas varia de uma para outra.
Antes de entrar no mercado chinês, sendo grande ou pequena empresa, é preciso fazer análise de dados e estudar o gosto dos consumidores, para oferecer produtos personalizados. “Muitas marcas pensam que, porque a China tem um mercado consumidor grandioso, principalmente online, é só abrir a loja que vai vender. E a gente sabe que não é assim”, afirmou. Para Renata, é necessário também investir em marketing pago e mídias sociais na China.
Renata apresentou um estudo de caso em que mostrava como o açaí, cuja matéria-prima é essencialmente brasileira, produzida na região amazônica, não é conhecido ou comprado pelo chineses como a polpa da fruta. Ela contou que os consumidores da China adquirem cremes faciais e de mão, pó de açaí, e açaí em capsulas, produzidos por marcas belgas e canadenses. Neste sentido, alerta para a necessidade de as empresas brasileiras trabalharem para fazer com que os chineses conheçam mais o açaí como um produto tipicamente brasileiro. E sugeriu que conheçam o gosto e preferências dos consumidores chineses, que têm inclinação para produtos de beleza.
Em época de coronavírus, a busca por remédios e produtos medicinais cresceu no mercado chinês. E, com isso, surge também uma oportunidade para os produtos brasileiros como mel e própolis, por exemplo, que podem ser exportados. “São produtos que vendem muito, mas as marcas ainda não desenvolveram uma estratégia para operar no mercado chinês”, disse a especialista.
A tecnologia no comércio eletrônico
O comércio eletrônico não diz respeito apenas à venda de produtos online, mas a toda uma cadeia que envolve logística, robôs e tecnologias que melhorem a experiencia do usuário ao comprar pela internet. A especialista destacou o papel da tecnologia no desenvolvimento das vendas online com os meios de pagamento e tecnologias de reconhecimento facial. Há ainda a experimentação de produtos dentro das plataformas de compras, como por exemplo, a experimentação de maquiagem e roupas, simulação de cenário para casa, entre outros. Na logística, a JD usa drones para fazer entregas, e a Alibaba robotizou seus armazéns de distribuição.
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