Robôs humanoides que preparam café ou interagem em atividades de educação infantil estão deixando os laboratórios e chegando ao dia a dia das famílias chinesas. Com o avanço da inteligência artificial (IA), essas máquinas passam a atuar em comunidades e residências, oferecendo assistência em tarefas domésticas, cuidados com idosos e companhia social.
Primeiros cenários de aplicação
No Centro de Cuidados Inteligentes Wuxin Xiaorong, em Baotou (Mongólia Interior), robôs de reabilitação orientam idosos em exercícios de movimento e registram dados; robôs de transporte auxiliam na locomoção; e robôs de companhia interagem por voz. Wei Wei, presidente do grupo, afirma que “os robôs inteligentes aumentam a eficiência do treinamento de reabilitação dos idosos e reduzem a carga de trabalho de terapeutas e cuidadores”.
Robôs já estão presentes em residências chinesas. O Xinghai R1 Lite, por exemplo, responde a comandos como “arrume a cama”. Zhao Xing, cientista-chefe da Xinghai AI (Beijing) Technology, explica que o robô utiliza o modelo Xinghai G-0, que permite o controle de 23 articulações do corpo, integrando percepção visual e execução motora.
O Conselho de Estado da China publicou o documento “Opinião sobre a Implementação Profunda da Ação ‘Inteligência Artificial+’”, que estimula a criação de novos cenários de consumo, a adoção de aplicações inteligentes e o desenvolvimento de assistentes domésticos. Chen Peng, vice-diretor do Departamento de Gestão de Pesquisa da China Women’s University, destaca que a cooperação entre empresas de serviços domésticos e empresas de IA deve ampliar a frequência e a qualidade do consumo, reduzir custos e atualizar o setor.
Wang Zhiwei, diretor do Departamento de Consultoria Estratégica da China International Engineering Consulting Corporation, observa que a população chinesa acima de 60 anos supera 300 milhões e que a demanda por cuidados domiciliares cresce rapidamente. Ele acrescenta que, no início do ano, a Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC) publicou o padrão internacional para robôs de cuidados a idosos, liderado pela China.
Produção e crescimento do setor
No primeiro trimestre de 2025, a produção chinesa de robôs de serviço atingiu 2,604 milhões de unidades, um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Wang Zhiwei afirma que os robôs humanóides estão em fase crucial de avanço técnico e exploração comercial, e que a adoção em larga escala terá impacto transformador no setor de serviços.
A receita da indústria de serviços domésticos na China atingiu RMB 1,23 trilhão em 2024, segundo associações do setor. O Ministério do Comércio e outros oito órgãos emitiram em abril o “Comunicado sobre Medidas para Expandir e Atualizar o Consumo de Serviços Domésticos”, que incentiva o uso de big data e IA para perfis de usuários e serviços personalizados, além de integrar robôs e novos equipamentos.
Wu Yuetao, diretor do Departamento de Emprego, Renda e Consumo da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC), afirma que a comissão promove a integração entre educação e indústria, incentivando a profissionalização e padronização dos serviços domésticos.
Han Wei, pesquisador associado do Instituto de Ciências do Trabalho e da Seguridade Social da China, aponta três impactos da IA no setor: substituição de tarefas padronizadas, colaboração humano-máquina e avanço em áreas de difícil substituição por máquinas. Gao Haiyan, trabalhadora doméstica em Pequim, relata que os empregadores agora exigem conhecimentos em educação infantil, nutrição, cuidados domiciliares e operação de eletrodomésticos inteligentes.
Zhu Haiyan, presidente da Yuanyuan Diandian Network Technology, diz que a empresa usa IA e realidade virtual em treinamentos profissionais, simulando culinária, cuidados infantis e idiomas. Segundo ela, a IA aumenta a eficiência e permite serviços mais precisos.
Desafios de aplicação
Apesar do avanço, robôs ainda enfrentam limitações. Han Wei afirma que as necessidades dos clientes são subjetivas, exigindo treinamentos constantes e melhorias nos modelos. Wang Zhiwei destaca riscos de privacidade e ética, já que robôs coletam dados de voz, imagens, hábitos e saúde, sem padrões claros de responsabilidade.
Wei Wei observa falta de profissionais híbridos que compreendam tecnologia e cuidados, além de ausência de padrões técnicos unificados. Chen Peng sugere desenvolvimento de robôs modulares e evolução gradual, começando por tarefas simples até funções complexas. Ele recomenda controle colaborativo humano-máquina em ações de risco e definição clara de coleta e armazenamento de dados.
Modelos de negócio sugerem estações comunitárias de robôs com aluguel por uso ou pacotes “robô + humano”, combinando tarefas básicas do robô com companhia emocional e manutenção por profissionais. Chen Peng prevê investimentos em equipamentos, softwares e ecossistemas inteligentes, com projetos-piloto em cidades e comunidades e adaptação de experiências internacionais.
Fonte: gmw.cn