A tensão comercial entre Estados Unidos e China escalou nesta semana com a imposição de novas restrições que impactam setores estratégicos da economia global. Na segunda-feira (2), o governo dos EUA anunciou limites às exportações de semicondutores para a China, justificando a medida como essencial para garantir a “segurança nacional”. A iniciativa busca conter o avanço chinês no desenvolvimento de chips e tecnologias de inteligência artificial. Em resposta, na terça-feira (3), Pequim impôs restrições à exportação para os EUA de metais cruciais para a produção de semicondutores e baterias, como gálio, germânio, antimônio e grafite. Esses materiais são amplamente utilizados pela indústria americana.
Para Daniel Lau, especialista em relações com a China e diretor do IEST Group, os efeitos dessa disputa tendem a ir além das fronteiras dos dois países, prejudicando a economia global. “Uma guerra comercial extensa acaba prejudicando todo mundo, não apenas a China, mas também todos os países que importam e exportam para ela”, avaliou.
A restrição de Washington ampliou a tensão entre as duas potências. A Internet Society da China, a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, a Associação da Indústria de Semicondutores da China, a Associação de Empresas de Comunicações da China emitiram declarações afirmando que os produtos de chips dos EUA “não são mais seguros e confiáveis”. Em uma entrevista na quarta-feira (5), He Yadong, porta-voz do Ministério do Comércio da China afirmou que os Estados Unidos “continuam a generalizar o conceito de segurança nacional, abusam das medidas de controle das exportações e implementam intimidação unilateral”.
De acordo com Lau, a China tem buscado adotar uma postura aberta, defendendo um cenário global mais colaborativo e com um fluxo de mercadorias, tanto de importação quanto de exportação, mais dinâmico. “A China sempre acredita no desenvolvimento global da economia e no multilateralismo”, destaca. No entanto, o especialista ressalta que, diante de sobretaxas ou barreiras comerciais extremas e de forma recorrente, o país tem adotado medidas para proteger as duas indústrias.
A disputa, segundo o especialista, pode trazer impactos severos às cadeias produtivas globais. A necessidade de substituição de fornecedores, por exemplo, tende a elevar custos, alimentando a inflação. Além disso, a adaptação a novos fornecedores leva tempo, o que pode desacelerar o ritmo de produção e gerar desemprego, ao criar distorções em diversos mercados.
Acirramento do conflito e o papel do Brasil
A estratégia protecionista adotada pelo governo de Joe Biden deve ser mantida no próximo mandato de Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez em 20 de janeiro de 2025. Trump, conhecido por seu posicionamento firme contra a China, é defensor declarado de medidas protecionistas para conter o avanço econômico do país asiático.
Segundo o especialista, um possível acirramento da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo pode trazer oportunidades para o Brasil. “Se uma guerra comercial for adiante, o Brasil se coloca como uma primeira grande alternativa para suprir alguns dos produtos que a China importa dos Estados Unidos, como as commodities agrícolas”, avalia. A reformulação de cadeias de produção e fornecedores por parte de China e EUA abriria espaço para o Brasil ampliar sua participação no mercado global.
Por outro lado, os Estados Unidos enfrentariam desafios significativos para substituir os produtos chineses. Encontrar fornecedores que atendam aos padrões de qualidade exigidos e ofereçam preços competitivos será uma tarefa complexa e potencialmente onerosa para a economia americana. Muitas cadeias de suprimentos precisam de anos para serem reformulados.
Por: Redação China2Brazil